A cúpula do PT se reúne a partir desta sexta-feira (8) para a conferência eleitoral do partido em um momento decisivo para o governo Lula. Ao final do primeiro ano de mandato, resta evidente a qualquer observador sensato que o cenário econômico e a relação de forças políticas são completamente diferentes daquelas que o petista encontrou no começo de seu primeiro governo.
Em uma resolução que será votada durante o evento, dirigentes da sigla listam críticas ao que chamam de austeridade fiscal e excesso de influência do centrão no governo. Ou seja, ignoram a realidade e repetem erros que levaram não só ao impeachment de Dilma Rousseff, mas ao enfraquecimento do partido nas disputas regionais.
Além da presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, vários integrantes da cúpula do PT vão aproveitar o evento para manifestar oposição ferrenha a propostas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que busca equilibrar as contas do governo após um ano de gastança.
Com longa trajetória na política, Haddad tem sido uma voz dissonante entre os correligionários. Insiste que, sem o controle de gastos e o enfrentamento de distorções que erodiram a base fiscal nos últimos anos, a boa fase da Economia será breve. Os militantes preferem culpar o Banco Central, ignorando que o controle da inflação esteve sob ameaça recente, e que o arcabouço fiscal aprovado pelo próprio governo exige a busca por déficit zero.
Ao perceber que a maioria das mudanças necessárias para o governo deslanchar depende do Congresso, Haddad se envolveu pessoalmente ao longo do ano em negociações com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Estes encontros, aliás, seguirão pelos próximos dias porque alguns dos projetos prioritários para aumento de arrecadação ainda não foram apreciados. São passos necessários e óbvios para evitar o retorno à trajetória de 2014 e 2015, que terminou com a pior crise econômica da história recente.
A cúpula do PT poderia servir para uma união de esforços em torno da pauta levantada pelo Ministério da Fazenda. Poderia ser usada para o distensionamento da relação com as lideranças de outros partidos, que são fundamentais para a pauta do governo avançar. A escolha dos dirigentes do partido, contudo, vai no sentido contrário.
Esperado no evento, o presidente Lula terá de escolher se ouvirá os companheiros de partido que defendem receitas velhas para um cenário de novos problemas, ou se fará o necessário para terminar o mandato cumprindo as promessas de campanha, que dependem de forma inequívoca de uma visão realista e pragmática.