Mesmo correndo o risco de a pergunta ser interpretada como machista, por se tratar de uma mulher, vale para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a pergunta que o então rei da Espanha, Juan Carlos, fez ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em 2007, na Cúpula Iberoamericana, em Santiago do Chile:
— Por que não te calas?
A explosão de Juan Carlos foi decorrente das incontáveis interrupções no discurso do primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero. A pergunta a Gleisi deveria ser feita pelos petistas diante de seu discurso destrambelhado, pregando o fim da Justiça Eleitoral. Ou o PT concorda com a falação da sua presidente?
Gleisi vociferava contra as multas aplicadas pela Justiça Eleitoral aos partidos que descumprem as regras — e que serão anistiados por decisão do Congresso.
Multas a partidos são como multas de trânsito. Quer acabar com a indústria da multa? Simples: basta andar dentro da lei. No caso dos partidos, cumpra as regras de aplicação do dinheiro público nas campanhas, de respeito aos limites, de cumprimento de prazos. As multas só são inexequíveis (ou impagáveis) porque os dirigentes partidários acham que “não vai dar nada”.
Como presidente de um dos maiores partidos do Brasil, Gleisi deveria dar o exemplo e zelar pelo cumprimento das regras, mas prefere atacar a Justiça Eleitoral e propor seu fim. Não está sozinha nisso: na esquerda, no centro e na direita, há muita gente que concorda com ela, a começar pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que questionava a lisura da instituição.
Ninguém está impedido de debater a possível extinção da Justiça Eleitoral nem de questionar seu custo e sua estrutura. Mas que seja um debate aberto, com argumentos sólidos e com a apresentação de alternativas. Quem fará a eleição em um país continental como o Brasil (e sem a autonomia federativa dos Estados Unidos) sem a Justiça Eleitoral? Ou alguém confiaria numa eleição coordenada por um órgão do governo, seja ele qual for?
Em resposta às declarações de Gleisi, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, emitiu nota de repúdio.
"Lamentavelmente, a própria existência da Justiça Eleitoral foi contestada por presidente de partido político, fruto do total desconhecimento sobre sua importância, estrutura, organização e funcionamento", diz trecho do comunicado.