Surpresa, outra vez? A capacidade de antecipar os movimentos da economia já está ficando constrangedora. Mas sim, outra vez: o crescimento de 0,9% da atividade econômica no terceiro trimestre ficou novamente acima da expectativa.
O dólar, que vinha ensaiando uma baixa nesta terça-feira (3) depois de sucessivos recordes, voltou a subir. Mas por quê? O ruim é que está bom.
Como assim? Em setembro, o Banco Central (BC) voltou a elevar o juro básico com objetivo de frear atividade econômica - o que significa desacelerar o crescimento do PIB - para tentar controlar a inflação. Então, se segue aumentando, "é ruim".
— Com a atividade rodando nessa velocidade e com a deterioração das expectativas, parece que o mercado irá migrar rapidamente para uma projeção de alta de 100 pontos base (ou 1 ponto percentual) para a Selic já em dezembro — avalia André Perfeito, que até a véspera mantinha a expectativa de elevação de "apenas" 0,75 ponto percentual.
Nos manuais de economia, elevar o juro serve exatamente para reduzir a atividade econômica. O efeito esperado costuma ocorrer em um período de seis a nove meses. Como a retomada do ciclo de alta no Brasil começou em setembro, só deve começar a impactar a velocidade lá por março. E é bom lembrar que o começo foi moderado, com alta de 0,25 ponto percentual.
Em suas recentes declarações, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que, dada a reação ao pacote no mercado de câmbio, "parece lógico imaginar que vai precisar ter uma taxa de juros mais contracionista por mais tempo".
"Contracionista" quer dizer exatamente ter poder para frear o PIB. Como o objetivo ainda está distante, o consenso da véspera, que era de um aumento da Selic de 0,75 ponto percentual, pode ter sido rapidamente superado pelos dados.