Se o crescimento de 0,8% do PIB no primeiro trimestre ficou pouco acima da expectativa e não chegou a ser uma grande surpresa, o mesmo não pode ser dito sobre o aumento de 1,4% no período de abril a junho ante os três meses anteriores.
Para dar uma ideia do que significa o número do trimestre, caso o Brasil rodasse a essa velocidade no ano todo, cresceria 5,7%.
No número geral, não apareceu o temido impacto da tragédia climática no Rio Grande do Sul, que se concentrou nos meses de maio e junho. Pode ter pesado, porém, na queda trimestral da agropecuária, de 2,3%.
Esse foi o maior aumento desde o terceiro e o quarto trimestres de 2020, na inflexão da recessão provocada pela pandemia de covid-19. No mercado, a expectativa era repetir o desempenho do primeiro trimestre.
Desta vez, o setor que puxou a alta foi a indústria, com crescimento de 3,9%. Por sua vez, esse desempenho foi impulsionado pelo segmento que inclui serviços básicos - eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos -, que saltou 8,5% ante o mesmo trimestre de 2023.
Esse indicador não é acompanhado tão de perto no mercado e pode ser uma das explicações para a nova surpresa positiva com o crescimento no trimestre passado.
O único indicador do PIB que não está no retrovisor, chamado "formação bruta de capital fixo", voltou a trazer boas notícias. Não chegou ao aumento robusto de 4,1% do primeiro trimestre, mas voltou a subir, desta vez 2,1%. Esse dado reflete investimento em capacidade produtiva, portanto embute crescimento para a frente.
Uma das consequências desse resultado deve ser a revisão das projeções do PIB para o ano. A estimativa mais frequente no Relatório Focus do Banco Central, entre uma centena de instituições financeiras e consultorias econômicas, está em 2,46%. Na avaliação do economista André Perfeito, tende a ser elevada para perto de 3% nas próximas semanas.
A outra é o reforço de uma expectativa menos festiva, a de aumento no juro básico. Uma das avaliações de mercado é de que, com maior crescimento, alarga-se também o espaço para aumento de preços. No Focus, a estimativa para o ano já está em 4,26%, aproximando-se do teto da margem de tolerância da meta, de 4,5%.
Atualização: o banco americano Goldman Sachs já elevou a previsão do PIB deste ano de 2,5% para 3%.
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