O crescimento do PIB de 0,8% no primeiro trimestre ficou ligeiramente acima da expectativa. Nada que provoque susto, ainda que positivo, como no mesmo período do ano passado, mas suficiente para alegrar - um pouco - o governo Lula e inquietar - um pouco mais - o mercado.
O Brasil vive o dilema do crescimento: de um lado, o executivo faz força para acelerar a atividade e, assim, melhorar sua popularidade, de outro lado o Banco Central (BC) quer freá-la para segurar a inflação, além de garantir que não haverá expansão fiscal - portanto da dívida.
Esse resultado, é bom frisar, é do período de janeiro a março, portanto não tem qualquer impacto da tragédia no Rio Grande do Sul, que vai se refletir nos resultados do PIB do Estado e do país no segundo trimestre.
Assim como ocorreu em 2023, o ano começou com baixa perspectiva de crescimento - 1,52% no primeiro Relatório Focus do ano -, mas já está acima de 2%. Outra vez, pouco do ponto de vista do governo, muito sob a ótica do mercado.
Diferentemente do ano passado, quando a surpresa positiva do crescimento ficou muito concentrada no campo, que tem menor disseminação de efeitos, no primeiro trimestre de 2024 o avanço do PIB foi muito influenciado pelo aumento de 1,5% no consumo das famílias.
Essa alta está muito relacionada ao aumento da massa salarial, provocado tanto pela queda no desemprego quanto pela política de aumento real (acima da inflação) do salário mínimo. No lado favorável, é um aumento de PIB que se reflete mais na vida das pessoas do que o registrado em 2023. No desfavorável, pressiona mais a inflação por se traduzir em aumento no consumo.
O único indicador do PIB que tem capacidade de fugir do retrovisor, chamado "Formação Bruta de Capital Fixo", trouxe boas notícias. Depois de um longo período de recuo, cresceu 4,1% em relação ao trimestre anterior e 2,7% ante igual período do ano passado. Esse dado é traduzido como investimento em capacidade produtiva - portanto capaz de alimentar crescimento para a frente.
No entanto, a taxa de investimento segue em modestos 16,9% do PIB, considerada insuficiente para abrir caminho a um crescimento sustentado. Para ter essa capacidade, teria de ficar acima de 20% do PIB. Ficou abaixo dos 17,1% registrados no primeiro trimestre de 2023.
Embora reforce a posição mais cautelosa do mercado sobre uma eventual manutenção do juro na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e apenas mais um corte quase invisível de 0,25 ponto percentual até o final do ano, o resultado do PIB do primeiro trimestre não deve provocar grandes revisões nas perspectivas para o ano.
O chamado "consenso de mercado" (predominante no Focus) é de crescimento de 2,05% neste ano. No acumulado de quatro trimestre até o final de março, está em 2,5%. Ou seja, há previsão de desaceleração.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo