A alta de 0,39% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro representa uma boa desaceleração ante o resultado do mês anterior, de 0,56% um mês antes.
Foi uma freada significativa ante a chamada "prévia da inflação" do mês passado, que havia batido em temíveis 0,62%. Mas chega na véspera de uma decisão do Banco Central (BC) que está condicionada pela expectativa do mercado de alta de 0,75 ponto percentual, para 12% ao ano.
E esse é o chamado "consenso do mercado", ou seja, a posição mediana (majoritária) entre os cerca de cem economistas consultados para a elaboração do Relatório Focus do BC. Isso significa que existem os fora da mediana, que se concentram em uma "paulada" ainda maior no juro, de até 1 ponto percentual.
Com o resultado de novembro, a inflação acumulada em 12 meses consolida resultado não só acima, mas bem distante do teto da meta: 4,87%, ante 4,76% até outubro. É por isso que alguns analistas consideram que, mesmo diante da desaceleração, possa ter aumentado o risco de "paulada" maior no juro.
— Esse resultado reforça a desancoragem das expectativas inflacionárias, que devem levar o Banco Central a adotar postura mais rígida. Crescem, portanto, as apostas de que a Selic seja elevada em 1 ponto percentual (...), alcançando 12,25% — avalia Arnaldo Lima, economista e RI da Polo Capital.
Esse aumento ainda será debitado na conta de Roberto Campos Neto, que se despede da presidência do BC só em 31 de dezembro. O contexto seria de que ele poderia assumir o desgaste de uma alta portentosa como despedida, para facilitar a vida do sucessor, Gabriel Galípolo.
No cargo a partir de janeiro, o indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia administrar altas futuras mais modestas e menos desgastantes. É uma hipótese, mas não parece desconfortável para qualquer dos protagonistas. Campos Neto deixaria o cargo com imagem de austeridade monetária, e facilitaria a vida de Galípolo, já antecedido por expectativas de que vá conduzir a política de juro de forma mais amigável ao Planalto.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo
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