"Quando tem que aumentar o juro, tem que aumentar".
A frase de Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à Rádio Gaúcha marca uma importante mudança no discurso presidencial.
E é emblemática, especialmente em um momento em que o mercado discute, não sem polêmica, a suposta necessidade de voltar a elevar o juro básico.
Depois da série de entrevistas concedidas a rádios das regiões Norte e Nordeste que contiveram declarações entendidas como questionamentos à autonomia do Banco Central (BC), é uma inflexão, mesmo que o discurso para a plateia se mantenha:
— Nós, obviamente, levamos em conta a necessidade da autonomia, mas é importante lembrar que o Banco Central deve ao povo brasileiro. Não é uma instituição autônoma do povo brasileiro, não, deve ao povo brasileiro, então tem que fazer as coisas pensando no povo brasileiro.
E insistiu:
— Não há interferência do governo. Não estou discursando, estou dizendo uma coisa que já aconteceu na prática quando fui presidente e terminei o mandato com a economia crescendo 7,5%, com a maior taxa de crescimento da massa salarial, com o aumento do salário mínimo.
O mais importante da entrevista de Lula em Porto Alegre, portanto, foi o que ele não voltou a dizer. Embora tenha feito agrados à sua base eleitoral, evitou o autoboicote. Em falas anteriores, o presidente havia feito o dólar subir, portanto ameaçado a redução da inflação que vinha se consolidando.
Claro, o cenário de câmbio, inflação e juro tem forte impacto das expectativas de redução do juro nos Estados Unidos, que agora indica início em setembro, não sem muitos solavancos.
Outro condicionador da mudança de discurso é o fato de que, em breve, Lula não terá um conveniente "inimigo" na presidência do BC, mas um profissional indicado por ele. E já trata de afinar as declarações com o que vem pela frente:
— (Em) Economia a gente não inventa, se a gente inventar a gente quebra a cara.
Desta vez, Lula tem toda a razão.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo