Deve ser oficializada na sexta-feira (27) a nova participação da Equatorial na área de saneamento: a Sabesp, maior do país e considerada a "joia da coroa" do setor. Até a quarta-feira (26), ainda disputava com outra atuante no Estado, a Aegea, que desistiu da disputa.
Especializada em privatizar e reestruturar distribuidoras de energia, a Equatorial entrou no saneamento há menos de três anos, com a compra da Caesa, de Alagoas. A Sabesp se tornou mais conhecida dos porto-alegrenses por emprestar bombas ao Dmae para apressar o escoamento dos alagamentos de maio.
O desfecho do "leilão" de sexta, com apenas uma interessada e ainda "novata" no saneamento, não será o esperado. Entre as causas do final um tanto melancólico estão as regras da venda de fatia da empresa, ainda mais estritas do que as tentadas - e modificadas - com a Corsan no Estado. Nesta manhã, as ações da Sabesp caem 2,6%.
No caso da Sabesp, além de restringir a 15% a fatia da venda de ações em pacote - as demais devem ser pulverizadas -, o governo de São Paulo adotou mecanismos que afugentaram as candidatas consideradas mais óbvias.
— Se a "joia da coroa" do saneamento tem apenas uma interessada, há algo errado. Se não gera competição, ou o processo foi mal feito, ou o setor não é tão atrativo — avalia o gaúcho Percy Soares Neto, ex-diretor-executivo da Abcon-Sindicon, entidade que representa empresas privadas do segmento.
Na avaliação de Percy, é "inegável" que mecanismos adotados pelo governo de São Paulo para se proteger inibiram a concorrência. Além de um percentual relativamente baixo para uma empresas privada se tornar "sócia estratégica" - os 15%, enquanto o modelo da Corsan previa 30% e ainda assim não atraiu -, houve uma "pílula de veneno". Esse é o nome (que costuma ser usado na versão em inglês, poison pill) de uma cláusula que proíbe esse acionista de referência de comprar ações de outros sócios para se tornar majoritário.
— Vai acontecer como no Rio Grande do Sul com a Corsan. Tem o mérito de o processo ter chegado ao fim, mas não pode ser considerado um sucesso, porque não houve competição. A venda da Corsan foi importante por ter sido a primeira depois do marco do saneamento, mas o governo do Estado deixou dinheiro na mesa (o valor obtido com a venda foi menor do que se tivesse havido disputa) — observa Percy.