A decisão da prefeitura de Porto Alegre e do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) de instalar as primeiras quatro bombas flutuantes emprestadas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) no entorno da Estação de Bombeamento de Água Pluvial (Ebap) número 9 está drenando uma zona da cidade pouco habitada e ocupada por cerca de cinco empresas e uma estação de tratamento de esgoto (ETE Sarandi). O Dmae afirma que a decisão se deu por razões técnicas.
O bairro, um dos mais populosos da Capital, sofre com os alagamentos, casas submersas, empresas fechadas desde o começo do mês. Uma série de fatores hidrológicos e topográficos estão impingindo enchente prolongada em parte do Sarandi, no Humaitá e na Vila Farrapos.
Perto dali, a casa de bombas número 10 segue em inatividade em razão do alagamento e sem o esforço de sucção, embora atenda região densamente habitada do bairro Sarandi. O Dmae afirma que é inviável acessar a região da Ebap 10 no momento por ela estar “completamente tomada de casas”.
Das nove bombas flutuantes que a Sabesp vai enviar a Porto Alegre, duas já estão em funcionamento entre os km 88 e 89 da freeway. Outras duas devem operar também ali em breve. Elas foram alocadas ao lado da casa de bombas número 9 para secar essa região e permitir a recuperação dos motores e reativação.
Embora potentes, as estruturas da Sabesp produzem um efeito local de drenagem. São as Ebaps, chamadas casas de bombas, que detêm capacidade para escoar bairros inteiros. Para transitar com os guindastes e caminhões que carregam os equipamentos da Sabesp, o Dmae reforçou um dique de terra que fica entre a Ebap 9 e o Arroio Sarandi — conhecido também por Arroio Passo das Pedras.
Os veículos trafegam sobre a contenção. As bombas da Sabesp, cuja capacidade é de expelir 2 mil litros de água por segundo, retiram o alagamento do entorno da casa de bombas e extravasam para o outro lado, onde fica o Arroio Sarandi, que deságua no Rio Gravataí.
O diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss declarou na terça-feira (21) que a concentração no entorno da casa de bombas 9 é fundamental para auxiliar a drenagem de áreas ainda alagadas do Sarandi.
A área atendida pela Ebap 9 é uma zona pouco habitada, com diques ao Norte, Sul e Oeste. Para o Leste, fica a Avenida Assis Brasil, próximo do acesso a Cachoeirinha. O interior da área protegida pelos diques é chamado de pôlder. Nesse pôlder em que se inclui a Ebap 9, existem, atualmente, a ETE Sarandi e as empresas Femsa Coca-Cola, Stok Center, Havan e Motormac Geradores.
No pôlder abaixo, coberto pela Ebap 10, fica uma região densamente povoada do Sarandi, com milhares de casas, comércios e escolas, como os bairros Nova Brasília, Elisabeth e Asa Branca. O mapa mostra que ela fica em uma linha reta com a Ebap 9, contígua ao dique de terra que foi utilizado como pista pelos guindastes que transportaram os equipamentos da Sabesp.
A Ebap 10 também é vizinha do mesmo Arroio Sarandi, para onde a água poderia ser drenada, da forma como está sendo feita no pôlder acima, à margem da freeway. Contudo, Loss afirma que é inviável executar a operação no local porque a região do dique está tomada por moradias. Os mapas mostram muitas residências no local, além de um campo de futebol, mas nem todos os espaços estão ocupados por construções.
Loss afirma que o trabalho está sendo orientado exclusivamente por decisões técnicas:
— Estamos aqui para beneficiar a população. A gente não tem como chegar na casa de bombas número 10 porque o dique está completamente tomado de casas. Temos de, primeiramente, partir da casa de bombas número 9 e colocar ela em funcionamento. Não é por causa das empresas. É por causa da casa de bombas que estamos ali. Não temos como colocar as bombas lá dentro (da Ebap 10) porque não temos para onde bombear.
A casa de bombas número 21, no bairro Asa Branca, que fica no mesmo pôlder da região alagada da Ebap 10, também está inoperante e sem um esforço concentrado de sucção.
Outras regiões
A Zona Norte tem outras regiões e bairros além do Sarandi que seguem sofrendo com alagamentos. Na terça-feira (21), Loss afirmou que, após instalar quatro bombas flutuantes da Sabesp para secar o entorno da Ebap 9, entre as outras cinco máquinas emprestadas, três devem ser destinadas ao Aeroporto Internacional Salgado Filho. Para as outras duas, a possibilidade estudada é de usar na drenagem da Avenida Severo Dullius e arredores da Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa).
O bairro Humaitá e regiões como a Vila Farrapos seguem com acúmulo de água, mas Loss diz que a instalação de bombas flutuantes nas regiões é dificultada por falta de opção de escoamento da água sugada.
— No Humaitá, não estamos vislumbrando um local para colocar as bombas porque está tudo alagado. Esse bairro é protegido por um dique que é a freeway. E não temos como transpor a mangueira que sai da bomba por cima da freeway. O principal é ter para onde escoar — argumentou Loss.
No Humaitá, está em funcionamento a Ebap 5. No entanto, para escoar áreas contíguas, como a Vila Farrapos, é importante o funcionamento da Ebap 8, que está inoperante em razão de inundação.
Na início da noite desta quarta-feira, o Dmae abriu a comporta 11 para facilitar o escoamento da água acumulada na região do Humaitá.