O alagamento persiste há 20 dias no bairro Humaitá, zona norte de Porto Alegre. Para exigir medidas urgentes, moradores bloquearam a freeway no início da tarde desta quarta-feira (22), interrompendo o trânsito temporariamente. No programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss, comentou sobre a possibilidade de instalar uma bomba flutuante no bairro, no mesmo estilo dos equipamentos que ajudaram a drenar a água no bairro Sarandi — uma das demandas dos moradores do Humaitá — e a possibilidade de passar canos pela freeway.
Segundo Loss, a abertura das comportas 12 e 14, que são localizadas nos bairros Navegantes e Humaitá, ajudam mais no escoamento da água do bairro para o Guaíba do que as bombas flutuantes instaladas no Sarandi, assim como as casas de bombas que já estão ligadas.
— A casa de bombas número 5, no Humaitá, está ligada há vários dias. Ainda não conseguimos a 8, que fica dentro do bairro Farrapos, porque ainda está bem submersa. Hoje à tarde está chegando uma equipe de arrozeiros, também parceiros nossos, que querem ajudar para atuar nas casas número 1 e 3, no prolongamento da Voluntários. Ou seja, estamos atuando em todo o quarto distrito. Aventamos, sim, a possibilidade de colocação daquelas bombas da Sabesp, mas lá atrás, quando tínhamos as comportas fechadas. Queríamos passar o duto pela comporta. Agora, com as comportas abertas, a vazão é maior do que a própria casa de bombas — afirmou Loss.
Quando questionado sobre a declaração dada ainda pela manhã, de que para o nível de água no bairro diminuir seria preciso "da ajuda da natureza", Loss explicou que não depende disso para resolver o problema, mas que é algo que influencia na rapidez do processo.
— O que compete a nós é religar a casa de bombas e abrir comportas. Nós estamos fazendo isso. É perceptível.
Canos e dutos pela freeway
Quanto a alternativa de utilizar dutos e canos que passem sobre a freeway para realizar o escoamento de água na região, Loss afirma que não tem como fechar as pistas, pois estaria barrando a travessia de veículos de emergências como ambulâncias.
— Os mangotes daquelas bombas são curtos, têm apenas 30 metros de comprimento. Poderíamos tentar emendá-los, mas seriam mais de 100 metros para jogar lá (do outro lado da freeway), passando por todas as postas. E eu passei bastante pelo corredor humanitário. A gente sempre vê bastante ambulâncias chegando aqui em Porto Alegre, carros de socorro. Enfim, eu acho muito temerário, muito arriscado — declarou.
Apesar disso, o diretor avalia a possibilidade de entrar em contato com a Polícia Rodoviária Federal para viabilizar uma estrutura de escoamento que passe pela rodovia. Ele coloca, porém, que é uma alternativa demorada, pois em alguns pontos, a estrutura teria que ser elevada, e essa elevação faria com que a bomba diminua o rendimento.
— infelizmente, não é tão simples assim. Isso compromete a estrutura da freeway, Né? Então, é claro... É de se levar em conta, sim, mas não é simples pegar e executar. Precisa realmente entender, ver se de fato é possível, porque a gente pode inviabilizar a freeway. — justificou.
Protesto no Humaitá
Os moradores bloquearam parcialmente o sentido Capital-Interior da freeway (BR-290) na altura do km 94, próximo à Arena do Grêmio. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e o ministro extraordinário para Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta, estiveram no local para dialogar com lideranças da região.
“Nossa intenção é buscar soluções para que a rodovia seja liberada e ouvir as reivindicações da comunidade”, Melo publicou na rede social X.
O prefeito anunciou a abertura das comportas do Portão 11 no fim da tarde de hoje para o escoamento das águas, com previsão de três a quatro dias para que o processo seja completo. Ainda, garantiu a prioridade dos moradores da região para as políticas públicas de compras assistidas. A rodovia já foi liberada.
A situação no bairro
Grande parte da população ainda segue sem conseguir acessar as próprias casas devido ao nível do alagamento.
A reportagem de GZH circulou pela região na manhã desta quarta-feira (22) e constatou um recuo das cheias em partes mais altas, como em boa parte da Avenida A.J. Renner. Em alguns trechos, ainda há água na pista, em um nível que permite a passagem de veículos maiores, como caminhonetes, jipes e caminhões.
Com essa diminuição, moradores e donos de estabelecimentos se reuniram para fazer mutirões de limpeza. Gisele Capovilla estava acompanhando o marido retirar a sujeira da cervejaria da qual ele é dono.
— Nós conseguimos chegar pela primeira vez na sexta-feira (17) através de uma caminhonete que tinha tração mais forte. Estamos retornando hoje para fazer a limpeza — afirma.
A partir da Rua Adelino Machado de Souza, que dá acesso à Vila Farrapos, a água começa a ultrapassar a altura da cintura. Poucos barcos circulavam nas vias alagadas, única forma de transitar nessas áreas. Luiz Carlos da Silva está morando em Gravataí e acessou pela primeira vez a residência dele desde que precisou sair. O nível da água chegava na altura de seu peito.
— Não sobrou nada mesmo. Ficou carro, moto, tá tudo embaixo d'água. Única coisa que eu tenho ali é umas bicicletas, que é o que vai dar pra aproveitar — lamenta.