Menos de cinco meses depois que o Brasil conheceu a real extensão dos danos da mineração em Maceió (AL), o candidato considerado mais promissor à compra da Braskem, dona da maior parte do polo petroquímico desistiu de fechar o negócio. Nos primeiros 40 minutos de operação da bolsa de valores, as ações da companhia caem 13%.
Em nota distribuída na manhã desta segunda-feira (6), a controladora da Braskem afirma ter sido informada de que a estatal de petróleo de Abu Dhabi, a Adnoc, "não têm interesse em dar continuidade ao processo de análise e negociações com a Novonor sobre a potencial transação (a venda da Braskem)".
Ainda segundo o comunicado, "a Novonor (controladora da companhia petroquímica) segue plenamente engajada no processo, em linha com o compromisso assumido com suas partes relacionadas".
O compromisso ao qual a Novonor se refere é o assumido com seus credores, no âmbito da recuperação judicial da companhia, a antiga Odebrecht. Os recursos da venda seriam destinados ao pagamento da parte da dívida, especialmente a relacionada a bancos.
O fantasma das consequências da mineração em Maceió (AL) assombra a venda da Braskem desde 2019, quando outra tentativa de venda fracassou por falta de transparência da empresa no fornecimento de dados sobre a real extensão dos prejuízos.
Em dezembro passado, a companhia informou que já havia desembolsado R$ 9 bilhões com ações compensatórias para o afundamento do solo em Maceió e tinha reservados mais R$ 5,6 bilhões para esses gastos, totalizando cerca de R$ 14,6 bilhões. O valor era quase 50% maior do que a oferta feita pela Adnoc pela parte da atual controladora da companhia, de R$ 10,5 bilhões.
Até o ano passado, ainda havia interesse na compra da Braskem por parte da Unipar, confirmado pela coluna, e especulações sobre eventual intenção de fazer oferta por parte da J&F, dona da JBS, o que até agora não se confirmou.
O imbróglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor (ex-Odebrecht), que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. A empresa privada tem 38,3% do capital total da Braskem e 50,1% das ações ordinárias, enquanto a Petrobras tem 36,1% do e 47% das ordinárias. O primeiro ensaio de venda, em 2019, foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado. Atualmente, está por volta de R$ 14,6 bilhões. Até o ano passado, ainda havia interesse da Unipar, confirmado pela coluna, e especulações sobre eventual inteção de fazer oferta por parte da J&F, dona da JBS.
A íntegra da nota da Braskem
São Paulo, 6 de maio de 2024 - A Braskem S.A. (“Braskem” ou “Companhia”) (Ticker B3: BRKM3, BRKM5 e BRKM6; NYSE: BAK; LATIBEX: XBRK), vem comunicar aos seus acionistas e ao mercado em geral que recebeu a seguinte correspondência enviada pelo seu controlador Novonor S.A. - Em Recuperação Judicial (“Novonor”):
“Prezados Senhores,
Fazemos referência às tratativas com a ADNOC International Limited - Sole Proprietorship L.L.C. (“ADNOC”) sobre potencial transação envolvendo a transferência de ações detidas pela NSP Investimentos S.A.– Em Recuperação Judicial (“NSP”), controlada pela Novonor S.A. – Em Recuperação Judicial (“Novonor”), de emissão da Braskem S.A. (“Braskem” ou “Companhia”) (“Potencial Transação”).
Fomos informados pela Adnoc que não têm interesse em dar continuidade ao processo de análise e negociações com a Novonor sobre a Potencial Transação. A Novonor segue plenamente engajada no processo, em linha com o compromisso assumido com suas partes relacionadas. Sendo o que nos cumpria para este momento, subscrevemos a presente correspondência.