Em pouco mais de 15 dias, o dólar saltou de menos de R$ 5 para R$ 5,243. Na quarta-feira (17), um pequeno recuo de 0,5% interrompeu uma sequência de cinco altas que provocou esse pequeno estresse cambial.
E agora, passou, vai voltar ao patamar abaixo de R$ 5 em que estava até 27 de março? Tão cedo, não, avisam os analistas, sabendo dos riscos de ousar fazer previsões sobre o comportamento do câmbio.
A primeira quinzena de abril mudou o cenário econômico. Teve inflação acima do esperado nos Estados Unidos, ensaio de manobra para driblar a regra fiscal em 2023, mudança de meta de superávit para 2025 e, acima de tudo, um ataque do Irã a Israel que pode tornar obsoletas todas as projeções globais já feitas para este ano.
A combinação de todos esses elementos se resume a um diagnósticos consensual: aumentou a incerteza. Esse foi o argumento do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, para avisar que nem o único corte de juro "prometido" está garantido.
Se mexeu até com a anunciada trajetória de queda da taxa Selic, a tal da incerteza passou como um furacão por uma variável ainda mais sensível, que é o câmbio. A combinação desses fatores fez com que investidores estrangeiros no Brasil aumentassem para níveis recordes a aposta na alta do dólar contra o real.
Conforme informe da B3, a bolsa de valores do Brasil, a posição comprada em dólar por meio de derivativos (dólar futuro, dólar mini, swap e cupom cambial) atingiu a máxima histórica, de US$ 70,3 bilhões. É, complicou. Mesmo que boa parte desse movimento possa ser provocada não por "ataque especulativo", mas por uso da moeda americana como hedge, ou seja, como mecanismo de proteção exatamente contra a alta do dólar, a mensagem é a mesma.
É bom lembrar que uma das citações mais correntes no mercado é a de que o câmbio é uma invenção para humilhar economistas - alusão à facilidade com que a cotação muda de sentido e de velocidade, desafiando quem tem a missão de tentar projetar seu comportamento. Mas há poucas boas surpresas no horizonte que possam desinflar o dólar.