Em pouco mais de 15 dias, o dólar saltou de menos de R$ 5 para R$ 5,27 (fechamento da terça-feira). A alta forte e acelerada tem componentes nacionais e internacionais e um contexto que inquieta o mercado: o aumento da dívida pública do Brasil, já bastante elevada.
Nesta quarta-feira (17), a moeda americana abriu em baixa no Brasil. Até o meio da manha, recua 0,42%, para R$ 5,247, ainda perto da máxima dos últimos 12 meses.
Esse é o efeito líquido da dificuldade do governo em cortar despesas ou elevar receitas que tem ficado mais clara nas últimas semanas. Na segunda-feira (15), veio a confirmação de que a meta de superávit de 0,5% do PIB prevista para 2025 virou novo compromisso de déficit zero e precipitou revisões de indicadores, especialmente sobre juro, tanto o básico quanto o futuro, que indexa financiamentos a empresas, ou seja, a investimentos.
Ao apresentar o primeiro esboço do orçamento de 2025, a equipe do Ministério do Planejamento também mostrou sua projeção sobre a trajetória da dívida líquida pública. Mesmo nesta versão mais "otimista" (a coluna já explica), uma constatação é óbvia: vai piorar antes de melhorar.
Para explicar o "otimismo": os dados que a coluna apresenta são os oficiais, como é habitual, mas há estimativas independentes que veem a dívida crescer até 83% do PIB antes de começar a desinflar. Em estimativa apresentada nesta quarta-feira sobre a dívida bruta (que não desconta o o que o país tem a receber), o Fundo Monetário Internacional (FMI) vê 93,9% do PIB em 2029, até onde chega a projeção. A diferença não significa, necessariamente, que há manipulação ou má intenção em quaisquer das estimativas, apenas que usam critérios diferentes.
O ponto é que mesmo a estimativa do governo admite aumento da dívida até 2028, para só então começar a declinar, lentamente. E é significativo que mostre elevação mais expressiva entre 2025 e 2026. Pelos dados do Ministério do Planejamento, no ano da reeleição da dívida subiria 1,2 ponto percentual, o mais alto da série histórica apresentada.
É por isso que a coluna já escreveu que superávit em ano eleitoral, no atual cenário, só se dá por milagre ou expurgo de despesas, como ocorreu em 2022 com a pedalada nos precatórios (clique aqui para ver a avaliação de um dos mais ortodoxos ministros da Fazenda que o Brasil já teve).
É preciso, ainda, acrescentar que, sim, houve imprevistos, especialmente no cenário externo. O risco de ampliação de um conflito no Oriente Médio não estava no horizonte. No entanto, a dependência do aumento de receita na fórmula do ajuste fiscal foi amplamente apontada como fator de risco maior. O controle de gastos é mais controlável, disseram sete em 10 economistas. Em um mundo instável, faz diferença.