Era tão real a ameaça de um ataque do Irã a Israel que se confirmou na noite de sábado no Brasil. Depois de o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, ter afirmado que esse desdobramento era "viável", o dólar e o petróleo já haviam subido, na sexta-feira passada.
Na reabertura dos mercados, devem subir mais - acompanhados do ouro e outras matérias-primas básicas - mas o tamanho da pressão vai depender da reação de Israel. O ataque iraniano foi considerado "contido": executado por drones e capaz de ter poder destruidor limitado pelo "escudo de ferro", o sistema de defesa israelense.
Os preços vão subir porque a incerteza aumentou dramaticamente. Mas caso Israel contenha sua reação, ainda é possível evitar a disseminação do conflito pelo Oriente Médio e limitar o episódio a uma resposta do Irã. Se não, as consequências podem ser mais graves.
Logo depois do ataque do Irã, na noite de sábado, Ian Bremmer, o presidente e fundador do Eurasia Group, uma das mais respeitadas empresas de pesquisa e consultoria em risco, publicou nas redes sociais sua primeira avaliação do episódio:
"O Irã fez o suficiente para ser visto como uma resposta com credibilidade ao ataque de Israel a Damasco (ataque à embaixada do país na Síria em que morreram generais da Guarda Revolucionária iraniana) na semana passada. Ao mesmo tempo, foi suficientemente limitado e rápido para evitar escalada significativa de Israel e seus aliados. Estressante. Mas melhor respirar um pouco."
O Irã já advertiu que "o ataque será maior" se Israel reagir à retaliação. Além disso, teria advertido que qualquer apoio dos Estados Unidos a uma possível reação israelense resultaria em ataques às bases americanas. Mas se só o "estresse" a que se refere Bremmer tem potencial para elevar preços, outros possíveis desdobramentos tiram o sono.
Segundo a Federação dos Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês), Israel tem cerca de 90 armas nucleares. O governo local não confirma nem desmente. O Irã enriqueceu urânio perto do nível necessário para criar uma bomba atômica, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), mas não há indícios concretos de que tenha ogivas nucleares. Ainda assim, tem a segunda maior força militar do Oriente Médio, atrás apenas do Egito.
Embora sanções econômicas tenham feito o Irã reduzir sua produção de petróleo, ainda está entre os maiores do mundo. No ano passado, conforme a americana Administração de Informação sobre Energia (EIA, na sigla em inglês), ficou em sétimo lugar, com 3,6 milhões de barris diários - apenas 200 mil acima do Brasil, com 3,4 milhões.
Com incerteza sobre os rumos do conflito e a manutenção dessa capacidade, a cotação do barril pode chegar a um ponto em que seja impossível segurar o repasse aos combustíveis no Brasil - até porque também virá pressão do dólar. Mas como exportador líquido (vende mais do que compra do Exterior), o Brasil não fica tão fragilizado. No lado do câmbio, tem uma muralha de dólares em reservas.
Até agora, não há motivos para pânico. Mas tudo depende da capacidade de contenção de Israel - própria ou por convencimentos dos aliados. O ataque do Irã foi uma consequência prevista de um temido desdobramento. Mas ainda é possível evitar um cenário pior.