A virada de ano do novo presidente da Argentina, Javier Milei, foi em Mar del Plata, tradicional cidade litorânea ao sul de Buenos Aires. Viajou para ver um show com participação da namorada, Fátima Florez, humorista que havia se especializado em imitar a ex-presidente Cristina Kirchner.
Como pouco antes havia editado medidas, leis e decretos que abalam os orçamentos das famílias, houve forte reação. Tanta que, no último dia do ano, obrigou o porta-voz a dar explicações sobre o caso - que trouxeram novos desdobramentos e um "escandalito" envolvendo dinheiro público.
Em rede social (veja abaixo), Manuel Adorni reclamou de "versões com absurda imprecisão" sobre a viagem e afirmou que as passagens de Milei e sua irmã, Karina, foram pagas integralmente com recursos próprios. Para sustentar o argumento, publicou inclusive as faturas da compra. E aí o "escandalito" adquiriu nova forma.
A reação, que já era ruim, piorou. Primeiro, porque conforme a identificação que aparece nos "documentos" (a coluna já esclarece as aspas), trata-se de uma empresa "mayorista" - o que significa que não atende ao consumidor final, mas a algum intermediário. A palavra em espanhol tem o sentido geral de "atacadista".
Conforme o decreto 1192/12 (veja aqui), editado pela própria Cristina Kirchner, a Optar seria a única empresa pela qual servidores públicos poderiam comprar passagens. E o preenchimento dos dados levantou sobrancelhas: o código postal que identificaria Buenos Aires na verdade é de Balcarce, a 400 quilômetros de distância da capital federal.
— É estranho, porque no sistema de faturas da Optar a seleção do código postal é registrada automaticamente depois de informar o domicílio, não confunde cidades — disse Alejandre Rodriguez, que integrou o governo da província de Buenos Aires, ao jornal Ámbito Financiero.
E há erro de digitação grosseiro: dirección, em espanhol é "endereço", palavra bem conhecida mesmo de que não tem muita intimidade com as letras, aparece escrita com dois "Rs". Pode ser simples engano? Pode. Mas os opositores já falam em fraude e exigem, até, a demissão do porta-voz.
Somada ao fato de que Milei subiu ao palco para beijar a namorada, que vestia roupa dourada e com fio dental - seria apenas falta de senso de oportunidade, dada a disparada de preços provocada pelas medidas já adotadas - a situação virou o primeiro "escandalito" que envolve dinheiro público do governo Milei, apenas 20 dias depois da posse.