De fato, o mundo não dá voltas, capota. A simples manutenção no cargo, por Javier Milei, do embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scoli, indicado por Alberto Fernández, havia provocado celeuma.
Chamara atenção porque Scioli não era apenas uma indicação "avulsa". Havia disputado uma eleição presidencial em 2015, pela coligação governista Frente para la Victoria, apoiado pela então presidente Cristina Fernández de Kirchner. Agora, foi anunciado como secretário de Turismo, Ambiente e Esportes. Então, Milei terá um kirchnerista no seu gabinete.
E é difícil saber quem ficou mais indignado, se os antigos aliados de Scioli ou a nova base de apoio de Milei. O anúncio oficial foi feito nesta terça-feira (30) pelo ministro do Interior, Guillermo Francos, considerado um dos mais hábeis negociadores do atual governo (veja post abaixo).
Com sérias dificuldades para aprovar seus dois imensos pacotes de regras - o Decreto de Necessidade e Urgência e a "Lei Ônibus", o governo Milei busca ampliar sua base de apoio. A expectativa é de que a votação da lei comece na quarta-feira (31).
Mas a história entre Milei e Scioli é antiga. Começa ainda antes de o economista que se define como anarcocapitalista ter iniciado carreira política. Conforme relata o livro El Loco: La vida desconocida de Javier Milei y su irrupción en la política argentina, de Juan Luiz Gonzáles, entre 2012 e 2013 o atual presidente liderava a área de estudos econômicos da Fundación Acordar, um centro de estudos financiado por Scioli, e acabou colaborando com sua campanha presidencial de 2015.
E, adivinhem: quem comandava a fundação de Scioli era... Guillermo Francos, que desde 2000 trabalha com Eduardo Eurnekian, empresário mais rico da Argentina, dono da Corporación America e a quem o livro atribui a viabilização financeira do lançamento de Milei como celebridade midiática. Sua empresa tem negócios de gestão de aeroportos - inclusive no Brasil -, geração e transmissão de energia, mineração, agroindústria, construção, infraestrutura e serviços bancários.
Em 2023, Scioli esteve em Porto Alegre discutindo as oportunidades abertas com as descobertas de gás natural da jazida de Neuquén, na Patagônia argentina. Esteve na Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) para o seminário "Oportunidades Argentina-Brasil, Relação com o Governo de Misiones e o Fornecimento de Gás Natural de Vaca Muerta ao Rio Grande do Sul".