A chanceler da Argentina, Diana Mondino, reuniu-se diretamente com a representante diplomática de Taiwan, Miao-hung Hsie (também chamada de Florencia Hsie no país). Em reação, a embaixada da China na Argentina publicou uma nota duríssima: "Taiwan é uma parte inalienável do território da China, e a questão de Taiwan é completamente um assunto interno da China" (veja o post abaixo).
Do ponto de vista chinês, a chanceler quebrou uma regra diplomática essencial ao se reunir com uma diplomata que não tem a mesma posição e sequer representa um país, contrariando um pilar do governo de Pequim, que é "uma só China".
O constrangimento diplomático ganhou atenção nesta quarta-feira (10), depois que a reunião fora da agenda oficial foi confirmada por várias fontes da Chancelaria (Ministério das Relações Exteriores da Argentina). É a primeira vez que um chanceler do país abandona a posição "um só China" e tem vínculo direto com Taiwan.
A reação não pode ser considerada inesperada: em 2022, a visita da então presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, virou incidente diplomático com a China, que chegou a prometer "medidas contundentes" em represália.
O movimento de Mondino é especialmente inoportuno no momento em que a Argentina coloca na venda da safra de soja, em abril, a maior esperança de obter dólares que hoje faltam no país. Há estimativa que a exportação - que tem a China como maior cliente - pode representar entrada de US$ 20 bilhões no país. A chanceler tem reunião com o embaixador da China em Buenos Aires, Wang Wei, marcada para sexta-feira (12).
Enquanto a Argentina "anacocapitalista" pratica uma diplomacia desastrada, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, considerado de centro-direita, tenta costurar à margem do Mercosul um acordo de livre-comércio com a China. No bloco, aliás, há um país que reconhece Taiwan como país e, em consequência, sofre bloqueio chinês, o Paraguai.
Durante a campanha, Milei chegou a afirmar quer cortaria relações com esse "país comunista" (apesar de ser uma ditadura política, a China exercita economia de mercado). Depois, o gigante asiático, que havia socorrido o governo de Alberto Fernández com um mecanismo financeiro de US$ 6,5 bilhões, recusou-se a renovar o socorro.