No dia em que se encerram formalmente os atos de campanha para as eleições do próximo domingo, foi da China que o atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou um socorro: US$ 6,5 bilhões em divisas garantidos pelo gigante asiático.
Pode ser coincidência, mas o valor é muito semelhante ao que faltaria para as necessidades essenciais do Banco Central da República Argentina (BCRA), segundo o ex-presidente da instituição Martín Redrado, que havia estimado reservas negativas de US$ 6 bilhões. O anúncio foi feito por Fernández de Pequim, onde se reuniu com Xi Jinping.
Detalhe: o candidato favorito à sucessão de Fernández, Javier Milei, tem afirmado, na campanha, que não quer fazer negócios com a China. O atual presidente não perdeu a oportunidade de marcar as diferenças:
— É preciso saber valorizar os amigos, senão terminamos todos confundidos. E existe algum doido que diz que não fará acordos nem vai negociar com este país (a China), quando na verdade este país ajuda muitíssimo a Argentina — disse Fernández.
Sobre a ajuda, é um fato: a China vem financiando suas importações à Argentina e, dessa forma, ampliando seu mercado no país, o que inquieta exportadores brasileiros. Sobre Milei e a China, o candidato favorito já afirmou até ter intenção de cortar relações diplomáticas com a segunda maior economia global:
— O povo não é livre, não pode fazer o que quer. Não faço acordos com comunistas.
O reforço foi feito às vésperas da eleição, quando a grande dúvida era se haveria dólares suficientes até domingo, para manter ao menos uma aparente normalidade. O mecanismo é um swap (troca, em inglês), parte de um acordo firmado ainda em 2009 para intercâmbio de moedas entre o BCRA e o Banco Popular da China, como se chama o BC do gigante asiático. E se Fernández aproveitou o socorro para cutucar o adversário, também nem fez esforço para disfarçar a dramática situação cambial do país, ao afirmar:
— Para a Argentina, é um grande alívio. São reservas que entram no país. É garantir que a produção industrial não seja interrompida (nem a coluna, que vinha reportando as dificuldades do vizinho, havia cogitado freio à indústria), que nossa economia se recupere mais rápido e garantir a criação de postos de trabalho.
A expectativa de economistas argentinos mais, digamos, otimistas, é de que essa nova injeção de dólares seja suficiente para segurar o mercado de câmbio até a efetiva substituição de Fernández, em 10 de dezembro. Os menos otimistas lembram que se trata de uma oferta indireta de divisas, mas ainda assim contribuiria para reduzir a tensão de demanda e maior risco do corrida cambial.