Na sexta-feira passada (6), a coluna registrou que o dólar blue na Argentina havia atingido a cotação de 900 pesos - sim, por unidade da moeda americana.
Dois dias úteis depois, essa espécie de "paralelo oficial" já atingiu inacreditáveis mil pesos. Mais exatamente, fechou a 1.010 nesta terça-feira (10), com alta de quase 7% em um só dia. Quem apresentar uma cédula de R$ 1 vai receber 200 pesos em troca.
Se a especulação cambial sempre foi uma vocação argentina, nestes últimos dias de campanha eleitoral em que o candidato favorito na eleição presidencial, Javier Milei, "prometeu" - ou será que "ameaçou"? - dolarizar a economia do país, a situação se agravou de forma dramática.
A associação entre "promessa" e efeito não é da coluna. Nesta terça-feira (10), três associações de bancos da Argentina, que incluem os públicos e privados, dirigiram uma carta pública aos candidatos à Presidência afirmando que é preciso evitar "declarações infundadas que gerem incerteza na população e volatilidade nas variáveis financeiras".
No dia anterior, Milei havia afirmado que o peso é "a moeda que emite o político argentino, portanto não pode valer nem excremento, porque esse lixo não serve nem para adubo". E confirmou sua intenção de dolarizar. Dias antes, havia afirmado que, quanto mais valorizado estiver o dólar, mais fácil será dolarizar a economia do país.
Para tentar estancar uma corrida de final incerto, o governo da Argentina duplicou os impostos sobre a compra do dólar oficial e os gastos no exterior feitos com cartão de crédito ou débito. Também "reajustou" a cotação de quatro dos quase 20 tipos de câmbio existentes no país neste momento, com o mesmo objetivo.
Segundo relatos de uma reunião do ministro da Economia - e adversário de Milei na corrida eleitoral -, Sergio Massa, com empresários, ele teria afirmado que pretende "meter na cadeia" quem está especulando contra a poupança da população, "ainda que custe a eleição".