Depois da ironia da criação do "dólar Vaca Muerta" - específico para as exportações de petróleo e gás que tem essa como principal jazida -, o caos cambial se aprofundou na Argentina na quinta-feira (5), com a paralisação do mercado paralelo.
Depois que o dólar blue atingiu a cotação de 850 pesos na véspera - o oficial é 350 -. uma operação de Fisco, Alfândega e Polícia Federal em bancos e financeiras mirou empresas que estariam falsificando importações para tirar divisas do país.
O resultado foi a interrupção de negócios no mercado mais irrigado do país, "ajudando" a conter uma eventual disparada. E a operação acabou expondo o óbvio: quem pode está retirando dólares do país, entre as ginásticas diárias do governo para sobreviver até a eleição e a ameaça de dolarização feita pelo ainda favorito Javier Milei, que se define como "anarcocapitalista".
Uma das muitas questões levantadas pela proposta é como fazer dolarização sem dólares. Há quem sustenta que é impossível e quem pondere que, com o suposto fim do peso argentino, as divisas evadidas voltariam pela segurança da manutenção de seu valor. Nesse caso, espantaria os yuans chineses que têm ajudado a rolar a tragédia para o futuro.
O jornal Clarín especula que o Banco Central de la Republica Argentina teria apenas US$ 1,5 bilhão em reservas líquidas. Independentemente do valor, há consenso de que as reservas são ou muito baixas ou simplesmente inexistentes. Por isso foi criado o tal "dólar Vaca Muerta": para convencer as empresas que exportam petróleo e gás fazerem a conversão o mais rapidamente possível, suavizando assim a escassez. Quando foi anunciado, valia cerca de 635 pesos. Ontem, fechou acima de 900.
O site Infobae - famoso por sua seção "dolar hoy", que acompanha as desventuras do peso argentino e suas várias taxas de câmbio - fala em "conjuntura furiosa" nestes 15 dias que antecedem o primeiro turno das eleições argentinas. No país, não se sabe para quantos dias há dólares disponíveis - e até se ainda há, de fato.
Se o presidente Alberto Fernández não fugiu de helicóptero, como fez Fernando de la Rúa em 2001, na mais recente profunda crise do país, é considerado mais um "rei da Inglaterra" (atualizando a analogia) do que um governante de fato. Quem toma decisões é o ministro da Economia, Sergio Massa, candidato à sucessão, que tem adotado medidas eleitoreiras que terão custo à frente.
Quem quer que assuma em 1o de dezembro - a transição é curta na Argentina - não terá um abacaxi nas mãos, mas um terreno minado sob os pés. Se nada "estallar" antes.