A jornalista que assina esta coluna precisa confessar: apesar de ter acompanhado de perto a ressignificação do potencial de reservas de petróleo na Bacia de Pelotas, não imaginava um resultado do leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nesta quarta-feira (13) tão importante para o Rio Grande do Sul.
Dos 44 blocos arrematados na Bacia de Pelotas, 35 ficam na costa entre Rio Grande e Chuí, e outros nove mais ao norte, quase na divisa com Santa Catarina. Quatro empresas, entre as quais Shell e Chevron, quinta e sétima maiores do mundo, mais Petrobras e a chinesa CNOOC, aceitaram desembolsar, no total, R$ 298,6 milhões para ter direito a pesquisar o subsolo marinho do sul catarinense ao extremo sul gaúcho.
Essas empresas avaliaram que a probabilidade de encontrar petróleo na costa gaúcha vale quase R$ 300 milhões. Embora não seja um cacife alto para gigantes como essas, também não é um valor irrisório, especialmente em tempos que as empresas estão mais seletivas nos investimentos.
Mesmo assim, é preciso advertir: com certeza, não se sabe a real chance de encontrar petróleo no litoral do Rio Grande do Sul. E funciona dessa forma em toda a atividade de "exploração". O nome se refere exatamente ao conjunto de atividades que buscam obter mais segurança sobre a potencialidade de determinada jazida antes de fazer qualquer perfuração do subsolo marinho.
— A descoberta de petróleo na Namíbia, do outro lado do Atlântico Sul, fez renascer o interesse pela Bacia de Pelotas. Vamos torcer para que, desta vez, a exploração avance e chegue à fase da perfuração de poços, que é quando petróleo pode ser encontrado — afirma o gaúcho Décio Oddone, ex-diretor-geral da ANP.
Antes de qualquer atividade no local, as empresas vão cumprir a etapa de prospecção, que envolve estudos geológicos aprofundados, uso de imagens de satélite para tentar identificar pequenas variações na gravidade, que indicam acúmulo subterrâneo de óleo, estudo de mudanças no campo magnético e até "narizes eletrônicos", chamados sniffers, capazes de detectar a existência de hidrocarbonetos.
Caso os sinais forem positivos, podem avançar para a chamada pesquisa sísmica, que normalmente usa navios equipados com ultrasom que passa pela rochas e são refletidas na superfície. Como a coluna já havia relatado, executivos de empresas petroleiras privadas consideram a Bacia de Pelotas, apesar de sua "ressignificação", de alto risco e alto custo.
Como agora a queridinha das regiões de "nova fronteira" - quando se descobrem acúmulos em uma área até então inexplorada - é a região da Guiana e da Margem Equatorial, não se deve descartar a hipótese de que essas grandes petroleiras que se interessaram pela Bacia de Pelotas deixem esses blocos à espera por algum tempo.
Por que o potencial da Bacia de Pelotas foi ressignificado
Como a coluna vem relatando ao longo do ano, o que despertou a cobiça foi a identificação de jazida estimada entre 1 bilhão e 2 bilhões de barris (para saber mais, clique aqui) na costa do Uruguai pela Challenger Energy. A exploração ocorreu baseada em estudo geológico que apontou ligação entre as formações deste lado do Atlântico e as da Namíbia, na África, que renderam grandes descobertas (clique aqui para saber mais).
É um processo semelhante ao que transformou a Guiana em objeto de cobiça da Venezuela e fez a Petrobras insistir em explorar a região chamada Margem Equatorial. Quando se identificar uma região geológica com alta acumulação de óleo, todas as semelhantes ganham maior interesse potencial. A Guiana começou a explorar e já tem reservas comprovadas de 11 bilhões de barris, cerca de um terço do total das brasileiras.
O que é a Bacia de Pelotas
Apesar do nome, em termos de formação geológica, que costuma definir a existência de óleo, a Bacia de Pelotas vai do sul de Santa Catarina, mais ou menos na altura da Praia da Pinheira, até o Uruguai, nas imediações de Cabo Polônio - passando, obviamente, por todo o litoral gaúcho.
* Colaborou Mathias Boni