Pela terceira vez seguida, o resultado do PIB do Brasil foi inesperado. Desta vez, não foi uma grande alta - variação positiva de mero 0,1% - mas o simples fato de a variação do terceiro trimestre não ter vindo com sinal negativo embutiu grande surpresa. Havia expectativa de recuo entre 0,2% e 0,3% no período entre julho e setembro.
O que ocorreu, na prática, foi uma estagnação, que tende a se repetir no quarto trimestre. Isso significa que não haverá recessão técnica no ano-calendário de 2023, o que já era esperado por vários analistas.
A expectativa de ligeira queda no PIB decorria de vários sinais negativos nas atividades da indústria, do varejo e dos serviços. Como a variação que livrou o resultado do sinal negativo é muito pequena, economistas atribuem o resultado a uma série de revisões de dados anteriores feitas pelo IBGE no período. Um dos exemplos é o resultado do ano cheio de 2022, que era de 2,9% e passou para 3%.
Outra explicação é a queda menor do que a esperada na agropecuária em um período de entressafra. O setor literalmente salvou a lavoura do PIB no ano. A coluna ouviu até que o setor primário "distorceu" o resultado do ano, como se a produção agropecuária não fizesse parte da atividade econômica.
Revisões no passado incidem estatisticamente sobre os resultados sucessivos. Independente do sinal à frente do número, porém, o resultado é uma estagnação. É, enfim, o famoso "pouso suave" da economia, efeito da alta taxa de juro. Era esperado ainda para o início deste ano, mas duas surpresas positivas seguidas com o PIB, graças ao ótimo desempenho da agricultura adiaram e suavizaram esse momento.
Para lembrar, caso o resultado do primeiro trimestre - mesmo depois de revisado de 1,9% para 1,8% pelo IBGE - se repetisse nos seguintes, o PIB do Brasil cresceria 7% no ano. É bom lembrar que o máximo da projeção de mercado para o crescimento da atividade econômica neste ano foi de 2,92%, enquanto o Ministério da Fazenda chegou a 3%. Isso significa que esse momento era esperado tanto no setor privado quanto no público.
O pouco de futuro que pode ser vislumbrado nos resultados do trimestre passado reforça a inquietação para 2024: o indicador de investimentos, chamado Formação Bruta de Capital Fixo, caiu 2,5% ante os três meses anteriores e 6,8% em relação a igual período do ano passado.
Como o acumulado de quatro trimestres até setembro é de crescimento de 3,2%, e as expectativas para os três últimos meses do ano são um pouco melhores do que as do período entre julho e setembro, não se deve descartar correções adicionais nas projeções do PIB de 2023. Surpreendentemente, para cima. O mais recente "consenso do mercado", traduzido no boletim Focus, do Banco Central (BC), é de crescimento de 2,84% neste ano.
Atualização: já começou a onda de revisões do PIB para 2023. O economista André Perfeito, que era um dos mais otimistas, com projeção de 3%, ajustou sua expectativa para 3,1%.