O leve avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que variou 0,1% no terceiro trimestre de 2023 (frente ao segundo trimestre deste ano), reflete o que o mercado antecipava: a economia do país está em processo de estagnação. Frente ao mesmo trimestre de 2022, entretanto, a alta é de 2% e no acumulado de quatro trimestres, encerrados em setembro de 2023, o crescimento é de 3,1%. No ano, o avanço fica em 3,2%.
Em valores correntes, o PIB no terceiro trimestre de 2023 totalizou R$ 2,741 trilhões. Na composição, R$ 2,387 trilhões são referentes ao Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 353,8 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.
O desempenho é fruto de uma esperada queda na agropecuária que recuou 3,3% e alta contida de 0,6% nos serviços e na indústria.
Diante dos números, entre os economistas, há os que consideram o resultado uma surpresa. É o caso do Economista chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, que aponta números acima das estimativas. Ele destaca que o mercado esperava por uma queda entre 0,2% e 0,5%, mas a Indústria e Serviços superaram indicadores setoriais na dinâmica apontada pelo IBGE.
Apesar da análise, Frank destaca que, mesmo no campo positivo, o PIB reforça um cenário de desaceleração. E lembra: No primeiro trimestre, houve um choque positivo, justamente daqueles setores considerados “não-cíclicos”. Esse é o caso, sobretudo da agropecuária, que na ocasião turbinou a performance com uma safra recorde.
O efeito agro
Diferentemente da indústria e dos serviços, cuja produção é regular o ano todo, o agronegócio tem época para plantar e para colher. É o que faz com que o segmento impulsione mais ou menos a atividade econômica nacional.
Por essa razão, o economista André Perfeito afirma que, na prática, a retração do agro, entre julho setembro, não chega a representar uma queda de fato. Ele explica: na comparação anual o setor sobe robustos 8,77%, fator que denota a força de propulsão dos desempenhos recordes registrados em 2023.
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz acrescenta que em quatro trimestre o setor avança 14,4%, o que até para o grande motor da atividade nacional é algo fora da curva. Os dados elevados, comenta da Luz, tornam natural o arrefecimento do terceiro trimestre, uma vez que a maior parte da safra entra efetivamente nos cálculos do segundo trimestre.
O resultado da indústria
Apontada como o principal efeito surpresa do período, a indústria reverteu projeções mais negativas. Ainda assim, o economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio alerta que é preciso cuidado na leitura dos dados.
Isso acontece, segundo ele, porque o setor foi impulsionado por segmentos como energia elétrica, combustíveis e saneamento básico, ou seja, que não possuem por características serem elementos mais agregadores para a economia. Além disso, comenta Baggio, essas altas encontram explicação em fatores climáticos.
Por outro lado, o economista constata dificuldades em áreas mais intensivas em contratações e com maior potencial multiplicador para a atividade produtiva, caso da indústria de transformação e construção civil patinaram. O primeiro exibe a terceira queda consecutiva no PIB e o segundo a caiu pela primeira vez após 11 resultados.
Projeção de desaceleração, mas alta de 3% no fechamento
Mesmo com a manutenção da atividade no campo positivo, as projeções para o próximo trimestre têm muitos elementos para sustentar a continuidade da desaceleração no futuro. Uma das bases para essa análise, avalia o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, vem da agropecuária. A má notícia é que, diferentemente, do que ocorreu até o momento, o setor não deverá ajudar o PIB dos próximos três meses:
– Pelo contrário, o resultado deve ser ruim por conta da baixa produção das lavouras de inverno, em razão dos problemas climáticos registrados até o momento – projeta o economista da Farsul.
Outro elemento que corrobora o pessimismo é a análise da taxa de investimentos, que aprofundou a trajetória de queda. Significa, conforme explica o economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal, menos produção no futuro.
Portugal observa forte desaceleração no PIB, ainda assim, diz que se o país crescer “zero” no último trimestre de 2023, o crescimento seria de 3%, considerado positivo para o histórico do país nas últimas décadas.
A má notícia, afirma Portugal, é que o país não tem avançado em reformas e modernizações da economia. E destaca o marco das garantias, que pode ampliar e baratear o crédito, como a única realizada em 2023.
– No mais foi só gol contra as reformas, como o fim do Teto de Gastos, a PEC da transição e as mudanças trabalhistas que devem entrar em vigor em março de 2024. E, como paramos de plantar no presente, vamos parar de colher bons resultados no futuro
A ANÁLISE DOS ECONOMISTAS
Enquanto o mercado dava como certo um PIB no campo negativo, Indústria e Serviços apresentaram performances acima das projeções setoriais e mantiveram a atividade no campo positivo.
NAS FAMÍLIAS
- Uma das explicações para o desempenho, conforme afirma o economista da FGV, Mauro Rochlin, é o crescimento de 1,1% no consumo das famílias que já exibia uma base elevada em razão do aumento para as transferências de renda dos programas sociais.
- Outro aspecto é a política fiscal do governo, que deverá produzir um déficit de R$ 200 bilhões, mas tem impacto no consumo, sobretudo, quando a inflação que até julho do ano passado superava os 10% e hoje está próxima do patamar de 4%.
- Segundo comenta, Rochlin, o maior controle dos preços na economia tem destaque justamente nos grupos mais relevantes, ou seja, o dos alimentos, o que colabora para uma menor corrosão da renda obtida no mercado de trabalho.
- Consumo em alta é positivo para atividade de um país, mas o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, argumenta que esse efeito tem sido produzido às custas de índices históricos e endividamento e inadimplência, portanto, não sustentável ao longo do tempo.
NAS EMPRESAS
- Apesar da reversão das expectativas para o terceiro trimestre de 2023, com o PIB ainda no campo positivo, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, assim como o Economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank com a continuidade da desaceleração.
- O principal indicativo para a percepção vem da chamada taxa de investimentos, que recuou 1,7 pontos percentuais a fechou o período entre julho e setembro em 16,6%, patamar considerado baixo, já que o quanto do PIB é composto pelas reservas para aportes futuros.
- Como esses recursos são usados para compra de maquinários, insumos e outros elementos que ajudam a incrementar capacidade produtiva, o economista Mauro Rochlin, traduz o que isso significa em economês com uma frase: “O investimento de hoje é o PIB de amanhã”
- O economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, acrescenta que as importações, sobretudo, de máquinas (que servem para aumentar a produção), produtos químicos e derivados de petróleo (insumos), teve queda expressiva, reforçando o pessimismo dos empresários.