Com expectativa de cenário favorável para a agropecuária, a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS) projeta 2024 com economia avançando mais no Rio Grande do Sul na comparação com o país. No tradicional balanço de fim de ano, realizado nesta segunda-feira (4), a entidade calcula o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado em 3,5%, enquanto a média nacional deverá ficar em 2,2%.
O presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, afirma que a perda de ritmo da economia no país no próximo ano não é necessariamente ruim para os setores de comércio e serviços. Ele justifica esse ponto citando a estimativa de juro mais baixo e de manutenção do cenário no âmbito do emprego, o que pode reforçar as vendas:
— Nossa perspectiva é de um crescimento menor na comparação com os anos anteriores. Uma desaceleração da atividade econômica que já está começando em meados deste ano. Acreditamos que o mercado de trabalho continuará aquecido, mantendo o rendimento médio das famílias.
A entidade atribui os resultados mais positivos do PIB do Brasil nos anos anteriores às reformas promovidas, como a da Previdência e a trabalhista, privatizações, e a acertos na política monetária. Agora, a falta de ações nesse sentido segura avanço maior da atividade, na avaliação da Fecomércio.
— O problema é que parou. Pararam as privatizações, as mudanças. Se fala em revogação de mudanças importantes, tem a intervenção nas estatais. Tudo que foi feito errado lá atrás está se repetindo. Essa é a nossa preocupação.
Na avaliação da federação, são seis meses sem reformas estruturantes. Duas das principais medidas recentes, o marco das garantias representou um avanço parcial e a reforma tributária só começa a funcionar no futuro, destaca. O balanço da Fecomércio também reforça que o ajuste fiscal segue sendo o principal desafio para o crescimento do país.
RS
Olhando a projeção pelo lado do Rio Grande do Sul, o economista e professor Marcelo Portugal, assessor econômico da federação, explica que o Estado sofreu nos últimos anos com efeitos de eventos climáticos que prejudicaram a agropecuária. Agora, esse cenário inverte:
— No Rio Grande do Sul, como tivemos três anos seguidos ruins, se a gente tiver um ano normal já vai ser um grande avanço. E por isso esperamos que o Rio Grande do Sul tenha um comportamento melhor do que o Brasil, porque o agro que ajudou o Brasil a subir rápido puxou o Rio Grande do Sul para baixo (nos anos anteriores).
ICMS e isenções
O presidente da Fecomércio reiterou posição contrária ao aumento do ICMS proposto pelo governo do Estado. Pelo pleito do Piratini, a alíquota passaria dos atuais 17% para 19,5%. Na avaliação do dirigente, o argumento de que a reforma tributária força essa elevação não se sustenta. A entidade afirma que o mecanismo da reforma começa a valer de forma gradual apenas em 2029 e não vai gerar perda de arrecadação.
Questionado pela jornalista e colunista de Economia Marta Sfredo, Bohn afirmou que a escolha "menos ruim" seria cortar os incentivos e benefícios fiscais, citado como plano B do governo do Estado em caso de não aprovação do aumento do ICMS. No entanto, o presidente não soube precisar qual seria o efeito desse corte.
Além do ICMS, a aprovação do piso regional é outro ponto que pode prejudicar o desenvolvimento do Estado, segundo o presidente.
Juro e mercado de trabalho
Além da projeção de mercado de trabalho ainda aquecido, que influencia na renda, a Fecomércio aposta em um cenário com juro menor em 2024 para combater alguns problemas, como alto endividamento e inadimplência estacionada em patamar elevado.
Avanço dos rendimentos e Selic em queda, que abre mais espaço para tomada de crédito, podem criar um ambiente melhor para as vendas no próximo ano, segundo o economista Marcelo Portugal.
Na projeção da entidade, os juros devem ficar em 9,75% em 2024. Já a inflação projetada é de 4,2% — acima do centro da meta (3%).
As projeções para 2024
- PIB - Brasil - 2,2%
- PIB - RS - 3,5%
- Inflação - 4,2%
- Juros - 9,75%
- Câmbio - 5,15 R$/US$
- Vendas no Comércio - 3,0%
- Vendas de Serviços - 2,7%