O cenário que se desenha para 2024 é de uma série de incertezas internas e externas, o que coloca dúvidas quanto ao desempenho da atividade econômica no ano que vem. A avaliação é da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), que apresentou nesta quinta-feira (30) as suas projeções para o próximo ano.
A entidade projeta crescimento de 4,7% no PIB do Rio Grande do Sul e de 1,5% para o PIB brasileiro em 2024. No caso gaúcho, as estimativas acima da conta nacional estão nas mãos da recuperação da agropecuária e resguardam possíveis “solavancos” que podem ocorrer ao longo do ano.
— Se tivesse que escolher um termo de tudo o que apresentamos, é incerteza. Depois de um ano muito difícil, temos incerteza no mercado interno e externo. São conflitos geopolíticos, dúvidas quanto ao comportamento do preço do petróleo, parceiros comerciais importantes como Argentina com mudanças de governo... tudo isso afeta exportadores, taxa de câmbio, investimentos. E no mercado interno, temos a questão fiscal e também dúvidas quanto a reformas — avaliou o economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio.
A situação “dentro de casa”, aliás, é um dos principais pontos de incerteza. O presidente da Fiergs, Gilberto Petry, voltou a manifestar o posicionamento contrário da entidade à proposta do governo do Estado de elevar a alíquota básica do ICMS de 17% para 19,5%.
Impacto sobre o consumo e inflação, perda de competitividade das empresas via aumento de custos, perda de empresas para outros Estados e desestímulo aos investimentos são apontados entre os efeitos amargos da proposta de Leite.
— 2023 foi difícil e no fim do ano ainda recebemos esse presente do governador — ironizou Petry.
Além do aumento no ICMS, a entidade também critica o fim dos incentivos fiscais. A medida é cogitada como uma alternativa pelo governo para reduzir o rombo de caixa, caso o projeto que aumenta as alíquotas do tributo não passe na Assembleia Legislativa. Para a Fiergs, o caminho para o equilíbrio das contas é a redução de gastos pela máquina pública.
O Rio Grande do Sul se despede de 2023 com surpresas negativas. Conforme a equipe econômica da entidade, o Estado fechará o ano com metade do crescimento esperado, em 2,5%. A quebra da safra de grãos no verão foi determinante para o desempenho encolhido da economia gaúcha, mesmo a estiagem tendo sido menos severa que a de 2022.
Na indústria, os juros altos e a retração na compra de matérias-primas compuseram o cenário desafiador, que deve se manter no próximo ano. A produção do setor caiu 5,1% até setembro de 2023. Além disso, os indicadores de emprego aceleraram a tendência negativa nos últimos meses. No acumulado em 12 meses até setembro, o saldo na geração de empregos era -7,5 mil no RS.
Já no Brasil, o desempenho econômico surpreendeu em 2023, segundo a Fiergs. A atividade cresceu acima do esperado no primeiro semestre, devendo encerrar o ano com alta de 2,8%. Resultado de boa safra (com o PIB agropecuário em 14,5%), impulso fiscal e balança comercial.
Para o próximo ano, as turbulências esperadas envolvem a questão fiscal. Receitas incertas e gastos subestimados são as principais preocupações da entidade. Mesmo com aprovação do novo arcabouço fiscal, o economista da Fiergs diz que ainda há um crescimento real de despesas, prejudicando o equilíbrio das contas.
Já no cenário internacional, depois da recuperação ensaiada em 2021, o quadro é de uma moderação do crescimento. Em 2023, a economia mundial cresceu 3%, abaixo da média dos últimos 22 anos, que é de 3,6%. Para 2024, a projeção é de alta 2,9%. A economia da China, que é um grande demandante da produção brasileira, também deve crescer menos.