Parecia impossível, mas aconteceu: o boletim Focus, elaborado pelo Banco Central (BC), traz pela primeira vez, nesta segunda-feira (16), a expectativa de que a inflação feche o ano dentro da meta - o que dá melhores perspectivas para a redução do juro.
Depois do resultado considerado positivo da semana passada, veio o efeito: o maior número das cerca de cem instituições financeiras e consultorias econômicas consultadas pelo BC cravou o IPCA de 2023 em 4,75% - exatamente o teto do ano, resultado da aplicação da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual sobre o centro da meta de 3,5%.
E daí? Daí muito: como afirmou em entrevista à coluna o economista-chefe do UBS, Alexandre de Ázara, com inflação dentro da meta não há justificativa para manter a taxa de juro em nível "contracionista" - alto o suficiente para frear a economia. Para lembrar, o ano começou com expectativa de inflação de 5,62%.
Isso não significa chancela à expectativa de corte acima do 0,5 ponto percentual previsto já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 1º de novembro. Até porque a incerteza gerada pela guerra entre Hamas e Israel não deve desaparecer do cenário até lá.
Mas essa nem tão pequena alteração no painel das expectativas econômicas - há uma semana, a projeção chamada de "consensual" era de 4,86%, caiu para 4,75% - é um passo gigantesco para um país que enfrentou severo e prolongado repique inflacionário provocado por pandemia, desarranjo nas cadeias produtivas e uma política de "dólar alto, juro baixo" cujo fracasso cobrou a conta no orçamento e no endividamento das famílias e das empresas.