O resultado do IPCA-15 de setembro - o cálculo oficial de inflação, só que de 30 dias no meio do calendário mensal -, surpreendeu o mercado de forma positiva, mais uma vez.
A alta de 0,26% veio bem abaixo da esperada - média de 0,34% -, e os componentes internos que o Banco Central (BC) monitora mais de perto para efeito de calibragem do juro também vieram sem sustos.
Como resultado, a expectativa de juro nominal de dois dígitos no próximo ano foi reforçada por parte do mercado, embora ainda não exista consenso, porque sinais anteriores haviam colocado essa perspectiva em xeque. Mas assegura - a menos que o cenário da guerra em Israel mude nos próximos dias - tranquilidade para novos cortes de 0,5 ponto percentual no juro básico nas reuniões do BC de 1º de novembro e 13 de dezembro.
Para Cristino Oliveira, do banco Pine, os dados do IPCA-15 de setembro compõem uma "ótima notícia". Um dos pontos mais fáceis de entender, o chamado de "índice de difusão" - que mostra quanto a inflação está espalhada -, de 42,7%, é o menor desde junho de 2017. Significa que menos da metade dos itens pesquisados aumentou de preço no período.
Além disso, aponta que a média das medidas de núcleo - subíndices de preços que costumam ser mais resistentes a variações - está ainda menor, em 0,21%. Essa é uma informação que o Comitê de Política Monetária (Copom) costuma olhar com lupa para decidir sobre a taxa Selic. Se está "comportado", ajuda na decisão de cortar. Outro dado positivo é a queda da média móvel de três meses de outro subitem, o de serviços subjacentes, que exclui os mais voláteis, como hotéis, passagens aéreas e tarifas de internet - e o BC também valoriza muito.
— Dado que outros componentes se mantiveram em linha com nossas projeções, mantemos nossa visão de que a inflação de serviços e suas métricas se moderarão ao longo dos próximos trimestres, apesar de permanecerem acima da meta de inflação — avalia Alexandre Maluf, economista da XP.
Mesmo com as boas notícias, a inflação acumulada em 12 meses até setembro no IPCA-15 atingiu 5,6%, bem acima do teto da meta, que é de 4,75%. Mas nem isso representa preocupação, porque a projeção é de que o fechamento do ano-calendário fique perto. A estimativa da XP para 2023 é de 4,8%. E a possibilidade de que encerre o ano dentro do intervalo de tolerância segue nas expectativas de outras casas, como a Warren Rena, que projeta 4,6%.