Se o preço do petróleo cai, em vez de subir, e está mais "barato" em pleno cenário de guerra, há outros riscos econômicos embutidos no incerto quadro do Oriente Médio depois do ataque terrorista do Hamas e da reação ainda em processo de Israel.
A matéria-prima dos combustíveis subiu 4,2% na segunda-feira, mas já devolve cerca de um quarto dessa alta. Nesta quarta-feira (11) recua mais 0,6% e se mantém em US$ 87 - mais "barato" do que esteve há poucos dias, quando passou alguns centavos dos US$ 96.
O tom do discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não teve grandes surpresas e, ainda assim, acentuou outro viés de risco econômico da guerra em Israel: o tamanho do engajamento dos americanos no conflito. É bom lembrar que já há forte pressão no orçamento dos EUA com o apoio à resistência da Ucrânia ante o ataque sem trégua da Rússia. Ao dizer que Israel não tem só o direito, mas o dever de responder, Biden se comprometeu em apoiar essa "resposta".
Na terça-feira (10), além da baixa do petróleo, o mercado financeiro nacional viveu um dia de alívio sem relação com o cenário de violência em Israel e em Gaza. A bolsa subiu e o dólar caiu diante da percepção de que a elevação dos títulos do Tesouro americano pode "substituir" uma nova alta do juro de referência, que era dada como certa na reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de 1º de novembro.
Essa valorização dos Treasuries havia feito a moeda americana no Brasil voltar à faixa dos R$ 5, não só na movimentação diária, mas na projeção para o final do ano. Agora, a inquietação se volta para o tamanho do comprometimento do orçamento dos EUA com as duas guerras que o país apoia - não em discursos, mas em finanças. E qualquer risco para o equilíbrio das contas da sua maior economia fará o mundo tremer.
O ataque do Hamas e a disposição do governo de Israel de destruir o grupo que, no passado, chegou a incentivar, suscita temores sobre a reação de aliados dos terroristas. Essa tensão aumentou com a informação de que há 100 mil soldados israelenses posicionados na fronteira de Gaza, em sinal de que há, sim, intenção de fazer a temida invasão por terra, com consequências imprevisíveis.
Já houve escaramuças com o mais poderoso Hezbollah - conforme especialistas, nada "fora do habitual" até agora - mas ainda não há sinal de engajamento desse grupo islâmico libanês. Também preocupa a reação do Irã à pretendida operação de aniquilação do Hamas, que vem sendo sustentado e armado pelo país dos aiatolás. Se uma dessas duas forças se envolver diretamente na guerra, o nível de incerteza dispara.
E tudo isso ocorre depois de uma pandemia que sacudiu as estruturas econômicas do planeta, de uma guerra na Europa - a da Ucrânia - e do choque inflacionário global. Como disse na terça-feira (10) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, "não conseguimos mais passar seis meses sem uma crise". E todas têm alto custo, para a economia e para a humanidade.