No dia em que o conflito entre Gaza e Israel chega longe, com a triste confirmação da morte do gaúcho Ranani Glazer nos ataques do Hamas, o preço do petróleo... baixa.
Depois de subir 4,2% na segunda-feira, primeiro dia de funcionamento do mercado depois do que vem sendo chamado de "11 de setembro de Israel", nesta terça-feira (10) a cotação recua levemente, para uma situação de quase estabilidade.
Era um comportamento previsto ainda na segunda-feira (9), porque Israel não é um produtor importante de petróleo. Mas, de fato, é difícil de entender, com foguetes explodindo no Oriente Médio. Até porque o ataque trazia uma memória literalmente explosiva: a data escolhida para a ação seria referência aos 50 anos da Guerra do Yom Kippur, em 6 de outubro de 1973, que foi o estopim do primeiro choque do petróleo.
A diferença é que o conflito de 50 anos atrás envolvia não só Israel, mas Egito e Síria, ou seja, países árabes. Na época, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) boicotou a venda da matéria-prima dos combustíveis aos países que apoiavam Israel. Ou seja, passava muito das fronteiras entre Israel e Gaza - para reconhecer que o conflito envolve um país e um território autônomo, ao menos em tese.
Negociado por US$ 87,78 nesta manhã de terça-feira (10) - tarde em Londres, onde se forma a cotação -, o petróleo está mais "barato" do que na semana passada, quando chegou a tocar US$ 96 por efeito de pressões entre oferta e demanda. Isso não significa, no entanto, que esse mercado não segue estressado. O principal temor é um eventual envolvimento mais explícito do Irã, que dá suporte ao Hamas.
O país dos aiatolás é o oitavo maior produtor mundial de petróleo - uma posição acima do Brasil, atualmente nono nesse ranking. Qualquer mobilização maior em favor do Hamas não só ampliaria o conflito, mas significar um grande produtor envolvido no conflito.
— No mercado, grande questão é saber se esse aumento de tensão vai ser ampliado e envolver outros países árabes da região. Isso poderia gerar impactos econômicos e financeiros, afetar a dinâmica de preços do petróleo que, por sua vez, pode ter consequências nas expectativas de inflação, juros e crescimento no mundo — afirma Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.
Neste momento, observa o economista, parece pouco provável uma escalada do conflito que leve a uma mudança importante dos cenários econômicos. André Perfeito, analista com anos de experiência no mercado financeiro, reforça que, se Irã ou outros países da Opep com grande produção não se envolverem, o efeito no mercado "será limitado".
O maior produtor de petróleo do mundo - os Estados Unidos - já deu um passo: está enviando ajuda a Israel. Pelo que se sabe, seriam reforços ao sistema de mísseis de defesa. O momento é de cautela diante do horror das imagens já captadas e da ameaça do Hamas executar um refém a cada novo bombardeio a supostos alvos civis em seu território. Independentemente dos efeitos no mercado, a escalada da violência - com armas ou sem - é aterrorizante.