Não há um indicador sobre inflação ou sobre o ritmo da economia - dos setoriais aos "antecedentes", como o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que teve variação positiva de 0,44% em julho - sem que o mercado especule se chance de corte no juro acima de 0,5 ponto aumentou ou diminuiu.
Sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC do início da noite desta quarta-feira (20) - feriado no Estado mas dia útil no restante do país - a expectativa consensual é de redução de 0,5 p.p.. Mesmo assim, seguem as apostas de que, até o final do ano, ocorra um corte mais profundo, de 0,75 p.p.
O fato de o IBC-Br ter sido quase estável, com pequena variação positiva, reanimou essas apostas, mesmo que o Copom tenha descrito a trajetória de forma muito explícita: "Os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões".
Então por que, afinal, o mercado insiste na especulação? É bom lembrar que o juro segue muito alto com objetivo de reduzir a velocidade da economia e, assim, frear reajustes de preços. Mas os PIB do primeiro e do segundo trimestre surpreenderam positivamente. Só que a forte expansão foi restrita a um setor, a agricultura, que não é tão bem acompanhado por indicadores quanto os demais setores.
Mesmo assim, as surpresas com o PIB renderam leituras de "resiliência" da atividade, que desaconselharia cortes mais ousados no juro. Mas como evidenciou o resultado do IBC-Br, a aceleração terminou com a safra agrícola. Nesta quarta-feira (20), um dos indicadores antecedentes, o Monitor do PIB-FGV, apontou queda de 0,3% na atividade econômica em julho, na comparação com junho.
Conforme Juliana Trece, coordenadora do levantamento, a retração é explicada por quedas nas três grandes atividades econômicas (agropecuária, indústria e serviços) e, pela ótica da demanda, por recuos no consumo das famílias e na formação bruta de capital fixo.
Então, essa percepção de que a atividade não está tão "resiliente" assim é um dos motivos das apostas em um corte mais ousado.
O segundo é mais fácil de explicar: tanto o juro básico (mesmo cortado a 12,75%) quanto o real (descontada a inflação, por volta de 7%) ainda estão muito, mas muito altos. O real é o maior do mundo, acima de países com economia tão ou mais desafiada do que a brasileira, como México, Colômbia e Chile. Então, desse ponto de vista, haveria "espaço" para aprofundar o corte.
O terceiro ponto é a inflação. Conforme a interpretação dominante, o resultado de agosto - não só pelo valor "cheio", mas graças ao comportamento de componentes observados com lupa pelo Copom -, deu conforto ao corte de 0,5 p.p. e chancelaria até uma "aceleração" até o final do ano caso continue se comportando assim. Mas como surgiu no horizonte um jorro nos preços do petróleo - que tem alto potencial inflacionário - há tensão com o "balanço de riscos" que o Copom fará no comunicado desta quarta e na ata da próxima terça-feira (26).