Depois de quase 20 dias arrastando as bolsas internacionais para o vermelho - e o dólar do Brasil de volta à fronteira dos R$ 5 -, a China fez o que era esperado: anunciou uma reforma no seu mercado de capitais. A medida ajuda a melhorar, mas só um pouco, o mercado brasileiro: a bolsa conseguiu a primeira alta do mês (+0,37%) e o dólar ensaiou recuo (-0,27%).
O objetivo é buscar mais investimentos ante o risco de quebra quase generalizada no setor imobiliário e crescimento econômico abaixo das expectativas. Os pontos anunciados não parecem dar conta do tamanho do risco - ampliação do horário de negociação, redução nas taxas para os corretores e incentivo à recompra de ações para ajudar a estabilizar as ações, que já caíram 20% na bolsa de Hong Kong.
Há semanas, dificuldades financeiras de outra gigante imobiliária do país, a Country Garden, vem inquietando o mercado. Nesta sexta-feira (18), a empresa foi retirada do índice Hang Seng da bolsa de Honk Kong, depois de não ter pago juros sobre sua dívida em dólares na semana anterior e enfrentar derretimento das ações. No mesmo dia, a Evergrande, que espalhou ondas de turbulência no mercado em 2021, quando era a segunda maior do segmento, pediu proteção contra credores em Nova York e em outros mercados internacionais enquanto tenta se reestruturar - algo semelhante à recuperação judicial no Brasil.
A percepção de que a China pudesse passar por um "momento Lehman" foi verbalizada por Xiaoxi Zhang, analista da Gavekal Research, diante de sinais de que a crise imobiliária contagia o setor financeiro. A quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, foi o epicentro do "estouro da bolha imobiliária", que se alastrou dos Estados Unidos para todo o mundo, inclusive ao Brasil - foi na época da "marolinha" ou do "tsunami".
Grandes incorporadoras deixaram de pagar suas dívidas, provocando perdas a fundos de investimentos. O "Lehman" chinês pode ser a Zhongrong International Trust, que tinha US$ 108 bilhões em ativos sob gestão no final de 2022. Deixou de pagar clientes de quatro de seus produtos. Por enquanto, o que se sabe é que três empresas de capital aberto deixaram de receber US$ 14 milhões. Não teria potencial para um "evento sistêmico" - quando uma crise envolve risco de afetar todo o sistema -, mas preocupa por envolver o que é conhecido como "shadow banking", o sistema de financiamento da China que não passa pelos bancos.