Mesmo que fosse só uma questão de "quando", como a coluna caracterizou, ainda assim surpreendeu, pelo tamanho, o aumento nos preços de gasolina e diesel que a Petrobras anunciou na manhã desta terça-feira (15).
No diesel, o acréscimo de R$ 0,78 por litro equivale a aumento de 25,8%, enquanto na gasolina chega a 16,3%. São pancadas que terão eco nos próximos índices de inflação e, consequentemente, podem afetar o ritmo do ciclo de baixa do juro básico.
— A gasolina compromete cerca de 5% do orçamento familiar. O aumento autorizado na refinaria foi de 16,3%, então algo em torno de 5,5%, cerca de um terço, deve chegar à bomba. Considerando que a gasolina pesa 5%, e que deve aumentar também em torno de 5% na bomba, o impacto em agosto deve ficar em torno de 0,13 ponto percentual, assim como em setembro — projeta André Braz, coordenador de índices de preços ao consumidor do Ibre-FGV.
No diesel, o aumento foi muito maior, de 25,82% na refinaria, mas pesa menos no custo de vida, cerca de 0,2%. Na bomba, o diesel deve subir em torno de 9%, então, considerando esse aumento, e o peso de 0,2% no custo de vida, a contribuição para a inflação de agosto fica em 0,01 p. p., e o mesmo em setembro — reforça.
Embora tenha a virtude de confirmar que a Petrobras não vai se afastar das referências internacionais, reajustes deste tamanho vão gerar impacto significativo nos próximos índice de inflação. A gasolina tem efeito mais direto para elevar o IPCA, enquanto o diesel vai aumentar a disseminação da alta de preços, por contagiar vários outros preços na economia, do frete ao pãozinho, já que boa parte da produção nacional circula de caminhão abastecido com essa combustível.
Em nota, a Petrobras admite o que o mercado já detectava:
"No entanto, a consolidação dos preços de petróleo em outro patamar, e estando a Petrobras no limite da sua otimização operacional, incluindo a realização de importações complementares, torna necessário realizar ajustes de preços para ambos os combustíveis, dentro dos parâmetros da estratégia comercial, visando reequilíbrio com o mercado e com os valores marginais para a Petrobras."
A decisão da Petrobras veio em dia de leve baixa na cotação do petróleo tipo brent (-0,8%), mas o barril ainda é cotado acima de US$ 85, cerca de 15% acima dos do que estava quando a estatal anunciou o fim da Paridade de Preços de Importação (PPI), em 16 de maio. O que vem subindo sem trégua nos últimos dias - em boa parte, por temor da nova onda de crise imobiliária na China - é o dólar, que hoje está relativamente estável em R$ 4,972.
— Somando o impacto da gasolina e do diesel, em agosto a inflação deve acelerar 0,14 p. p., e em setembro também. Deve ser um número baixo, entre 0,10% e 0,15% na inflação total de agosto, e para setembro a gente espera um número um pouco maior, subindo para cerca de 0,30%. De qualquer maneira, vamos ter inflação positiva, mas ainda uma inflação baixa — pondera André Braz.
— Contudo, isso já é suficiente para fazer com que a taxa em 12 meses, hoje em torno de 4%, avance um pouco mais, mas ainda com um impacto pequeno. No acumulado do ano, a gente tinha a chance de ter uma inflação dentro do intervalo de tolerância da meta, cujo teto é 4,75%, mas com esse aumento dos combustíveis, diminui essa probabilidade, considerando que o cenário para uma revisão para baixo nesses preços até dezembro é pequena. O preço do petróleo deve ficar alto, pelo menos nesse patamar acima de US$ 80, e a probabilidade de a gente ter uma inflação um pouquinho mais alta do que a Focus nos antecipa no momento cresce a partir de agora — complementa.
Atualização: com o anúncio de reajuste, as ações da Petrobras sobem ao redor de 4% na manhã desta terça-feira (15), tanto as ordinárias quanto as preferenciais.
Atualização 2: começaram as projeções de impacto na inflação. Conforme Andréa Angelo, estrategista de inflação Warren Rena, o impacto total estimado para o IPCA é de 38 pontos básicos. Com isso, a projeção da gestora, que estava em 4,6% fica em 5% - portanto acima do teto da meta, que é de 4,75%. Para agosto, a projeção do IPCA, que estava em 0,2%, sobe para 0,3% e, para setembro, de 0,4% para 0,68%.