O que aconteceu entre as primeiras derrotas do governo Lula no Congresso e a aprovação, com muita folga, do regime de urgência para votação da nova regra fiscal?
Além da diferença entre a falta de oportunidade do decreto que alterava o Marco do Saneamento e a cuidadosa montagem do arcabouço feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está a máquina de fazer voto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O resultado líquido da sessão da noite de quarta-feira (18) - definido como "esplendoroso" pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) - é apenas um atalho para a apreciação do substituto do teto de gastos. A votação que realmente pode concretizar a troca está prevista para a próxima semana na Câmara.
É essencial que o novo marco fiscal seja aprovado até agosto para que o orçamento definitivo que irá ao Congresso tenha menos "números feios", como disse a ministra do Planejamento, Simone Tebet. Mais ainda, para dar ao Banco Central (BC) alguma garantia de que a política fiscal não será inimiga, mas uma aliada no esforço para domar a inflação.
O resultado de 367 votos a favor - eram necessários 257 - e escassos 102 contra também foi visto como uma espécie de vistosa amostra grátis do que pode fazer o Congresso, digamos, bem irrigado. Depois das primeiras derrotas, aliás, já voltaram a ser liberadas emendas parlamentares.
Mas qual é o tamanho da conta? É esse cálculo que assusta governo e contribuintes. Lira é quase explícito ao sinalizar que, "com poder" - leia-se bilhões de dinheiro público para distribuir sob a forma de emendas -, pode facilitar a vida do governo. Sem, pode chegar ao limite de inviabilizar aprovações no Congresso. Tem fantasma de orçamento secreto rondando essas conversas.