A primeira reação do mercado ao anúncio do novo marco fiscal feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi positivo. De certa forma, foi uma surpresa para alguns porta-vozes que, na véspera, haviam respondido a uma pesquisa do BGC sobre as primeiras informações que haviam surgido ainda na quarta-feira (29): 54% disseram que não havia gostado, enquanto 46% haviam gostado.
Com alta de 1,42% na bolsa - diante de relativa estabilidade em Nova York - e estabilidade no dólar (-0,22%), o resultado parece ter sido melhor do que o esperado.
A postura de Haddad contribuiu para essa reação. Não só teve cuidado obsessivo com os ritos de apresentação - antes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois a líderes no Congresso e até a parlamentares de referência para a oposição.
— Passei os últimos dias respondendo a parlamentares da oposição. Estava há pouco sentado com o Rogério Marinho, o Ciro Nogueira (dois ex-ministros do governo anterior) — afirmou já no final da apresentação, ao assegurar que, no governo, há 100% de convergência sobre a proposta, dúvida que ainda existe, inclusive depois da resposta.
Outra estratégia de Haddad foi agir de forma oposta a seu antecessor no cargo, frequentemente acusado de arrogância. Admitir que pode ser criticado e que os críticos podem visões determinadas por suas próprias posições também ajuda a desarmar espíticos. Em compensação, mesmo depois do anúncio, as regras ainda têm mais aparência de conjunto de intenções do que de passo a passo.
A intenção, por exemplo, de alcançar superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, obviamente é aplaudida. No entanto, não se sabe muito bem como essa meta será alcançada. Haddad admitiu que ainda há "muito trabalho" pela frente e anunciou "medidas saneadoras" entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões que devem ir ao Congresso em duas semanas, para "cobrir buracos e dar sustentabilidade ao crescimento".
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, fez leituras para a coluna em três níveis:
— A primeira é "temos uma regra, tem alguma flexibilidade, é crível, cumpre papel de, ao longo do tempo, gerar um superávit primário. Uma segunda leitura é mais preocupante: a gente não consegue ver, com esses dados, a produção de um superávit que seja suficiente para equilibrar a dívida bruta. Eles fizeram exercícios, mas a gente não consegue reproduzir, tem muitas hipóteses, com juro real, PIB potencial. A terceira, é de que temos de conhecer melhor os detalhes, temos de esperar um pouco mais. Não vamos mudar nossas projeções de trajetória de dívida por enquanto, mas há um primeiro sinal positivo. Talvez não suficiente.
À GloboNews, Felipe Salto, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) e economista-chefe especialista em política fiscal da Warren Renascença considerou essa perspetiva "otimista", mas que nos primeiros cálculos da corretora, o modelo tem potencial para começar a "melhorar" a trajetória da dívida pública - grande objetivo da regra.
André Perfeito, economista independente com anos de atuação no mercado financeiro, fez uma ponderação importante ao observar que objetivo de reonerar determinados setores e tributar segmentos que hoje são desonerados "é uma briga política com P":
— O plano apresentado tem a virtude de não precisar de aumento de arrecadação para funcionar, mas joga pressão sobre os políticos para rever os benefícios tributários concedidos caso queiram aumentarmos gastos. É um movimento inteligente para buscar "justiça tributária" para não aumentar alíquotas ou criar impostos, mas trazendo para o Fisco setores que estavam ou favorecidos ou completamente fora.