A mais esperada sinalização dos principais acionistas da Americanas - o tamanho da injeção de dinheiro para garantir a sobrevivência da rede de varejo - conseguiu piorar o clima que já estava ruim.
Além do valor informado ao mercado ser menos da metade do esperado - R$ 7 bilhões, enquanto a expectativa era de ao menos R$ 15 bilhões -, a proposta ainda envolve R$ 18 bilhões em dívidas da companhia com bancos que seriam transformados em participação acionária ou relegados ao fim da fila dos credores (efeito prático da conversão em "dívida subordinada"). Pegou mal.
As propostas foram feitas na manhã desta quinta-feira (16) pelos três acionistas de referência - Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira -, com seus assessores, e os principais credores. Embora o "comparecimento" do trio tenha sido considerado positivo, especialmente depois da nota que emitiram alegando desconhecimento completo dos problemas da companhia, as condições são consideradas inaceitáveis.
No final da reunião, a companhia emitiu fato relevante com os detalhes da proposta (confira abaixo) em que admite que "não houve, até o momento, acordo com relação à proposta apresentada". O impacto das "inconsistências" da Americanas vai além de funcionários, credores e fornecedores. Os maiores bancos do país - Itaú e Bradesco - tiveram de fazer provisões (reservar recursos em caso de não pagamento) de valores bilionários devido a negócios com a companhia.
Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto afirmou, em sua entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, que até agora não há sinais de problemas sistêmicos (que afetem a todo sistema financeiro). Mas avisou que o BC segue monitorando a questão.
Presidente do BNDES, Aloízio Mercadante admitiu a hipótese de socorrer fornecedores que não sabem quando vão receber pelo que já venderam à varejista, mas avisou que não atuará como "hospital" para a Americanas.
A íntegra do comunicado
FATO RELEVANTE
Americanas S.A. – Em Recuperação Judicial (“Americanas” ou “Companhia”), informa que, em busca de entendimentos com seus credores com vistas a um acordo que possa equacionar suas dívidas, estão sendo realizadas reuniões na data de hoje com bancos e outros credores financeiros. Rothschild & Co, seu assessor contratado para interagir com esses credores, apresentou proposta contemplando, principalmente, um aumento de capital em dinheiro, com suporte de seus acionistas de referência, no valor de R$ 7 bilhões de reais (considerando o financiamento DIP já aportado que seria convertido em capital), recompra de dívida por parte da companhia da ordem de R$ 12 bilhões e a conversão de dívidas financeiras no montante total de cerca de R$ 18 bilhões de reais, parte em capital e parte em dívida subordinada. Não houve, até o momento, acordo com relação à proposta apresentada. A Companhia espera continuar mantendo discussões construtivas com seus credores em busca de uma solução sustentada que permita a continuidade de suas atividades.