O futuro da Americanas está nas mãos de três bilionários, não por acaso as pessoas mais ricas do Brasil. Nesse ponto das negociações com os credores - a antessala de uma possível mas pouco provável recuperação judicial - tudo indica que "apenas" R$ 4 bilhões impedem uma solução que evite o risco de quebra da companhia.
O universo em que R$ 4 bilhões podem ser acompanhados da expressão "apenas" é o de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, o grupo da 3G Capital que é sócio de referência das Americanas. Juntos, eles têm patrimônio estimado em R$ 140 bilhões.
Os tais R$ 4 bilhões que faltam é a diferença, até agora, da injeção que o trio estaria disposto a fazer nas Americanas para evitar uma recuperação judicial - R$ 6 bilhões - e o mínimo que os bancos credores exigem - R$ 10 bilhões. Esse seria o ponto de partida para uma capitalização de emergências da empresa, que também teria parte da dívida estimada em R$ 40 bilhões convertida em ações.
Além de muito dinheiro, os 3G têm muita fama. E de bons gestores, capazes de comprar negócios cambaleantes e colocá-los para correr - atrás de mais, é claro. Desde 2021, não são mais os controladores das Americanas: uma reestruturação societária fez a participação do 3G diminuir de 53,3% para 29,2%.
Mesmo assim, seguem com a maior fatia, por isso são apontados como "acionistas de referência". A essa altura, os três acumulam perdas nas fortunas pessoais com o derretimento da varejista brasileira na bolsa. Na véspera do fato relevante que detonou a crise, seu valor de mercado (cotação multiplicada pelo número de ações) era de R$ 10,8 bilhões. Na terça-feira (17), os papéis até abriram em forte alta, mas depois voltaram a cair, fazendo o valor de mercado cair 83,5%, para R$ 1,73 bilhão.
Os sócios podem perder ainda mais se não elevarem a aposta. Fontes de mercado que já fizeram negócios com o 3G avaliam que o estilo do trio, conhecido como "austero", ou seja, focado na redução de gastos, também pode ser considerado "duro". Isso significa que não têm qualquer relação afetiva com as empresas das quais participam. No caso da Americana, tendem a fazer o que custar menos, ainda que seja deixar a rede de varejo quebrar.
O que poderia mudar a perspectiva do trio, porém, é a forte repercussão do caso, especialmente fora do Brasil. Ainda sem confirmação, há expectativa de que diferentes escritórios entrem com ações coletivas na Justiça dos Estados Unidos contra a Americanas, que negocia ADRs (papéis que correspondem a ações, chamados American Depositary Receipts) na bolsa de Nova York. Nesse cenário, se o que precisarem resgatar for a reputação global, pode ser que aceitem pagar um pouco mais caro.
O que é a 3G Capital
É uma empresa de investimento no modelo private equity, ou seja, que compra fatias de negócios para permanecer como acionista por prazo longo. Além das Americanas, um dos primeiros negócios dos fundadores Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, controla negócios de alcance global, como indústria de bebidas multinacional AB-Inbev - que inclui a nacional Ambev -, e as empresas de alimentos Kraft-Heinz e Burger King.