Toleradas há mais de 40 dias, manifestações que eram "só" antidemocráticas transbordaram em episódios de violência em Brasília na noite de segunda-feira (12), dia da diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Foram movidas por um grupo relativamente pequeno, de não mais de duas centenas de pessoas supostamente motivadas pela prisão de um dos "seus", José Acácio Serere Xavante, conhecido como Cacique Serere.
Por três horas, Brasília foi uma cidade sitiada, como relatou o colega Rodrigo Lopes, que acompanhou as consequências do desbordamento das manifestações antidemocráticas. Ônibus e carros queimados, pessoas aterrorizadas e impedidas de circular, além de patrimônio público destruído estão entre as perdas materiais do vandalismo.
Para o Brasil, o prejuízo é muito maior: o dano à imagem do país, já deteriorada por anos de isolamento, negacionismo e convivência com ilegalidades, foi aprofundado com a circulação das imagens de uma capital federal em chamas. Com um agravante: a resposta da força legal foi lenta e guarda uma diferença notável em relação a outros episódios envolvendo violência nas ruas: ainda não se tem informações claras sobre prisões efetuadas.
A única vacina capaz de impedir novos surtos como o visto na data da diplomação de um presidente eleito - equivalente à que suscitou a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos -, é a responsabilização. Atos ilegais precisam ter consequência. Tanto os "só" antidemocráticos quanto os que destroem e queimam. Caso contrário, o prejuízo não será só financeiro, nem só para a imagem do Brasil no Exterior, com risco de afugentar parceiros que podem ajudar a tirar o país do isolamento. Será a perda de qualquer limite de civilização e a abertura do caminho para a barbárie, agora muito mais do que a conceitual.