As sanções econômicas dos países ricos contra o ataque da Rússia à Ucrânia seguem em escalada, com o esperado impacto sobre o país agressor e também sobre o comércio mundial e os preços de matérias-primas.
A essa altura, praticamente todas as agências de classificação de risco colocaram as avaliações dos títulos da dívida pública da Rússia no nível identificado como "lixo" (junk) no mercado financeiro e pelo menos duas já veem situação de calote nos pagamentos.
A mais recente suspensão de pagamento da dívida russa ocorreu em 1998 e afetou o Brasil. Foi um dos fatores que determinou o abandono do sistema de câmbio fixo e a adoção do sistema flutuante em vigor até hoje. Se a Rússia der calote, é bom se preparar para o impacto no real.
A decisão mais recente sobre a Rússia foi da Moody's, que rebaixou a nota de crédito de B3 para Ca, espécie de antessala do default, ou seja, do calote. Na escala da agência, é o segundo degrau mais baixo de classificação e indica agravamento do risco de default, como o não pagamento dos compromissos é chamado no jargão financeiro.
No relatório em que justificou a degradação, a Moody's aponta "sérias preocupações em torno da disposição e capacidade da Rússia de pagar as obrigações", devido às limitações de capital do Banco Central da Rússia. Portanto, avalia que "o risco de descumprimento aumentou significativamente". A agência estima que o PIB russo caia 7% neste ano, com alta probabilidade de afundar ainda mais em 2023.
Antes disso, as três agências que dominam a atenção dos investidores — da Moody's, Fitch e Standard & Poor's — já haviam rebaixado os títulos da dívida russa para o nível chamado de "especulativo" no jargão do segmento e apelidado de "junk", ou "lixo", em português.
Outro sintoma de que o mercado se prepara para o não pagamento da dívida russa é o aumento do custo do seguro contra calote, representado pelos Credit Default Swaps, que subiu 50% só na segunda-feira (7). Isso significa que, além de já impedida de trocar os títulos de outros países que estão nas suas reservas, por bloqueio dos países ricos, a Rússia enfrentará um custo ainda maior para colocar os seus próprios títulos no mercado.
Até agora, a China vem socorrendo financeiramente o país com o qual anunciou "aliança sem limites". Depois que Visa e Mastercard anunciaram a interrupção das operações na Rússia, o Union Pay chinês tenta substituir as duas redes globais.
Nesta terça-feira (8), o presidente Xi Jinping teve reunião virtual com o presidente da França, Emmanoel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz. Conforme nota distribuída pela embaixada da China no Brasil, Xi considerou "preocupante" a situação na Ucrânia, apontou necessidade de apoiar negociações de paz, mas observou que "relevantes sanções vão afetar as finanças globais, a energia, o transporte e a cadeia de suprimentos, afundando a economia global já devastada pela pandemia, o que não interessa a ninguém".