Depois que o IPCA-15 ficou em 0,95% em março, "acima das expectativas mais pessimistas", como definiu um analista, o dólar acentuou a queda no mercado de câmbio no Brasil. É bom lembrar que o IPCA-15 é conhecido como "prévia da inflação" porque é uma pesquisa igualzinha à do índice considerado oficial no país, apenas em outro período (veja mais abaixo).
Sinal de que mais inflação é bom e de que a economia brasileira vai bem? Não, ao contrário: as projeções agora embutem maior probabilidade de que a alta já prevista em 1 ponto percentual no início de maio não seja a última do atual ciclo de alta.
Nunca é demais repetir que a causa básica da valorização do real é a elevação do juro no Brasil. É fácil de entender: investidores são remunerados pela rentabilidade de suas aplicações e pela taxa de juro. Se só ao entrar no Brasil já garantem 11,7%% ao ano, enquanto a taxa básica dos Estados Unidos está em 0,5%, é óbvio que a Selic virou um ímã de dólares. Isso é ruim? Não pela consequência, porque dólar mais barato ajuda a conter a inflação, mas pela causa.
Como se sabe, a função do juro em alta é reduzir consumo, investimento, crédito. Isso significa que a economia brasileira é obrigada a desacelerar, ou seja, a crescer menos. Então, se a inflação segue em alta, o mesmo ocorre com o juro, que tira velocidade da atividade produtiva.
Quem mencionou a inflação "acima das expectativas mais pessimistas" foi Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Sua projeção era de 0,81%, e atribui a diferença a uma dupla simbólica: gasolina e perfumes (para lembrar o meme gerado pelo mega-aumento, ao lado). O segundo item também apareceu como surpresa não computada na previsão de 0,85% de Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital Modalmais. Conforme o economista, o item do grupo Saúde e Cuidados Pessoais subiu 12,84%.
Mas se bons odores pressionaram a inflação, inspiram mau cheiro logo ali adiante: conforme Sichel, o IPCA-15 mostra "dinâmica e composição ainda desfavoráveis, reforçando nossa tese de elevação de 100bps na Selic em maio" ("bps" são pontos básicos, que equivalem àquele 1 ponto percentual que o BC já avisou que deve levar a Selic a 12,75%).
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três componentes: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado oficial porque serve de referência para o Banco Central calibrar o juro básico. Mede variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.