Foi com suspense, embora o resultado tenha sido o esperado. Jornalistas experientes comentavam a inusual demora na publicação do comunicado do Banco Central (BC) sobre aumento da taxa de juro. Essa elevação anunciada nesta quarta-feira (16), deveria ter sido a última do atual ciclo de alta, que em exatos 12 meses multiplicou a Selic quase seis vezes, de 2% para 11,75%.
A alta da inflação pré-reajustaço, a guerra entre Rússia e Ucrânia e o mega-aumento dos combustíveis esticaram o ciclo e, em consequência, também o período em que o juro básico no Brasil ficará acima dos dois dígitos.
No comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) deu o aviso: "para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude". Essa foi uma surpresa. Embora houvesse expectativa de prolongamento do ciclo, não se esperava uma indicação tão clara do próximo passo, dias 3 e 4 de maio, em uma dimensão acima do que alguns analistas previam.
Não por acaso, a decisão demorou a sair. A cadeia dos repasses do dieselaço já está em marcha. Pode parar se a Petrobras anunciar uma redução no preço dos combustíveis, atendendo ao presidente Jair Bolsonaro, mas não vai engatar marcha a ré. O que passou, passou. No Brasil, preços não baixam, reduzem a velocidade de alta.
Se até a guerra e as sanções econômicas para freá-la, que aceleram alta de preços, já havia temor de inércia inflacionária - quando os índices sobem porque os índices subiram - agora estão todos mais acentuados. O fato de o petróleo ter encostado em US$ 140 e recuado para menos de US$ 100 tirou pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom), mas disseminou incertezas.
Nesta quarta-feira, no horário em que os oito diretores do BC encaminhavam sua decisão, o barril do brent trafegava em US$ 98,75, com nova baixa de 1,16%, bastante menos acentuada do que as de dias anteriores. Mas e amanhã, com que humor vai acordar Vladimir Putin? Ainda inclinado a negociar uma trégua, como parece hoje? Ou disposto a aceitar risco de calote da dívida e impor mais restrições a seu próprio povo?
Neste momento, quem define quanto o carnê da loja vai ficar mais caro, quanto vai custar a mais o financiamento do carro, quanto vai encarecer a compra da casa própria não é o presidente do BC, nem o presidente da República do Brasil, mas Putin. Quanto mais longa for a guerra, mais caro todos vamos pagar, não só no juro, mas na gasolina, no pão, nos eletrônicos e nos eletrodomésticos.
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três componentes: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado oficial porque serve de referência para o Banco Central calibrar o juro básico. Mede variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.