Nem todas as instituições já refizeram todos os cálculos, mas o primeiro impacto do "gasolinaço" sobre as projeções para 2022 já está registrado no boletim Focus, por meio do qual o Banco Central consulta cerca de uma centenas de instituições financeiras e consultorias econômicas nas sextas-feiras para divulgação no primeiro dia útil da semana seguinte.
Neste segunda-feira (14), as estimativas mais frequentes para o IPCA saltaram de 5,65% para 6,45% — ainda abaixo de projeções isoladas —, e as para o juro básico subiram de 12,25% para 12,75%.
Dois fatos da semana passada — o "gasolinaço" e o IPCA cheio de fevereiro, que já veio acima do esperado antes do impacto mais recente —, já haviam provocado elevações nas projeções de inflação para 2023, de 3,51% para 3,70%.
Rafael Carmo, líder regional da XP Investimentos desde julho de 2020, que atua nas regionais Porto Alegre e Rio de Janeiro, é paulista, mas respondeu com uma expressão muito gaúcha quando a coluna perguntou o que vem dizendo aos clientes:
— Bah.
Depois de alguns segundos, ponderou que o efeito da alta das matérias-primas já é visível, não só no petróleo, mas em alimentos como trigo e milho. Também já é possível ver o efeito direto na inflação. Como afirmou o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre a guerra, Carmo é do time que prevê que o pior está por vir:
— A Rússia ainda não colocou o Brasil na lista dos que vão parar de receber insumos, mas vai reduzir fornecimento de fertilizantes. Vamos ter uma safra de qualidade menor, menos produtiva, e como os grãos também são insumos para alimentar animais, a proteína também vai subir. Vai ter efeito no preço da comida de fato. E quanto mais a guerra se estende, pior é.
Se a inflação vai subir, pondera Carmo, a previsão de que a taxa básica de juro pudesse começar a ser reduzida ainda neste ano agora virou hipótese "pouco provável". Embora ainda espere alta de 1,25 ponto percentual no anúncio do BC sobre o novo patamar da Selic da próxima quarta-feira (16), o economista avisa que a XP está "recalculando tudo".
— Queda de juro em 2022, esquece. No nosso cenário-base, já não existe. O que estamos dizendo os clientes, basicamente, é para puxar para investimentos atrelados à inflação. Existem os públicos, os do Tesouro Direto, e também privados, embora com nível de risco maior. E recomendamos preferência para os pós-fixados, que vão se beneficiar da subida de juro, que vai ficar mais tempo em patamar mais alto.