Em comunicado ao mercado, a Petrobras informou nesta sexta-feira (1º), que "finalizou sem êxito" a negociação com a Ultrapar para venda da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas. A candidata à compra confirmou o fim das tratativas, também em nota.
Conforme a estatal, as tratativas naufragaram devido a "certas condições críticas". O anúncio surpreendeu o mercado, inclusive porque executivos da Ultrapar haviam afirmado recentemente que o negócio seria concluído até este mês.
No mercado, havia temor do impacto na privatização das refinarias das sucessivas ameaças do presidente Jair Bolsonaro de intervenção na Petrobras e na formação de preços de refino. A mais recente ocorreu na segunda-feira (27), provocando uma resposta imediata da estatal, inclusive com um inédito "anúncio de anúncio" de aumento.
Um dos efeitos dessa situação é a depreciação dos ativos, o que dificulta um acordo sobre o preço justo entre comprador e vendedor. Na mais recente reunião com analistas de mercado, o CEO da Ultrapar, Frederico Curado, foi indagado sobre o eventual aumento do risco do segmento com a proximidade das eleições, inclusive diante dos sinais de Bolsonaro, e havia respondido assim:
— Enxergamos a oportunidade da refinaria como uma possibilidade de grandes retornos sobre o investimento. Para nós, há um balanço de risco sobre investimento que faz sentido. A nossa proposta, que foi selecionada pela Petrobras, dá um bom equilíbrio entre risco e retorno.
João Luiz Zuñeda, diretor da consultoria Maxiquim, pondera que vender refinarias, que tem margens de lucro baixas, não é fácil não só no Brasil, mas em todo o mundo. Mas avalia que a interrupção das tratativas, depois de todos os sinais da Ultrapar de que estava se encaminhando bem, pode sinalizar um "reposicionamento" da Petrobras:
— A política de preços de combustível pode estar afetando, mas alguma coisa pode ter mudado com o novo CEO (o general Joaquim Silva e Luna). Se fosse problema de preço, Guedes (o ministro da Economia) e o Castello Branco (CEO demitido por Bolsonaro) bateriam o martelo.
Para Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, embora a compra pudesse criar sinergias para a Ultra Cargo tanto para a Ipiranga, "o momento não é propício para investimentos que possivelmente passariam da casa do bilhão de dólares em setor no centro das discussões nacionais e envolto em pressões de custo que extrapolam as discussões políticas que o envolvem".
Na semana passada a Ultrapar havia anunciado mudanças. Marcos Lutz, que liderou a gigante Cosan por muitos anos, virou sócio e foi anunciado como presidente-executivo do grupo, em comunicados sucessivos e não exatamente nessa ordem. Agora, a empresa capitalizada por vendas pode se interessar por uma das fatias regionais da Braskem e mesmo pela privatização da Sulgás, como já indicavam os executivos.
Apesar do fracasso das negociações, a Petrobras não desistiu da venda da Refap. Conforme a nota, "iniciará tempestivamente (no momento em que considerar mais oportuno) novo processo competitivo para essa refinaria".
Leia a íntegra da nota da Petrobras
A Petrobras, em continuidade ao comunicado de 19/01/2021, informa que finalizou sem êxito as negociações junto à Ultrapar Participações S.A. (Ultrapar) para venda da Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), no Rio Grande do Sul.
Apesar dos esforços envidados por ambas as empresas nesse processo, certas condições críticas não tiveram êxito para um acordo, optando-se pelo encerramento das negociações em curso, sem penalidades para nenhuma das partes. Assim, a Petrobras iniciará tempestivamente novo processo competitivo para essa refinaria.
Os processos competitivos para venda da Refinaria Gabriel Passos (REGAP), em Minas Gerais, Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR), no Ceará, e Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), no Paraná, continuam em andamento visando a assinatura dos contratos de compra e venda. As refinarias Landulpho Alves (RLAM) e Isaac Sabbá (REMAN) já tiveram seus contratos de compra e venda assinados.
A Petrobras reforça o seu compromisso com a ampla transparência de seus projetos de desinvestimento e de gestão de seu portfólio e informa que as etapas subsequentes dos projetos em curso serão divulgadas ao mercado.
Leia a íntegra da nota da Ultrapar
A Ultrapar Participações S.A. (B3: UGPA3 / NYSE: UGP, “Ultrapar” ou “Companhia”), nos termos da Resolução CVM 44/21, comunica que encerrou as negociações para aquisição da Refinaria Alberto Pasqualini (“Refap”) junto à Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, que haviam sido iniciadas no início do ano, conforme informado em Fato Relevante emitido pela Companhia em 19 de janeiro de 2021.
Apesar dos esforços envidados pelas partes durante esse processo, certas condições críticas definidas na proposta vinculante da Companhia não se confirmaram no curso das negociações, desequilibrando a equação de risco e retorno esperada. Com isso, a Ultrapar informa que não irá renovar sua proposta vinculante, optando por encerrar as negociações em curso, sem penalidades para nenhuma das partes.
A Ultrapar está concluindo a fase de racionalização de seu portfólio com os desinvestimentos em andamento da Oxiteno, Extrafarma e ConectCar. Com um portfólio mais complementar e sinérgico, a Ultrapar reduzirá significativamente sua alavancagem financeira, ampliando sua capacidade de investimento. Nesse sentido, a Ultrapar continuará investindo no crescimento da plataforma existente nas verticais de energia e infraestrutura, por meio da Ipiranga, Ultragaz e Ultracargo, bem como em novas oportunidades de negócios alavancados na transição da matriz energética brasileira. A Companhia também continuará acompanhando os desdobramentos do programa de venda de ativos da Petrobras.