Bem no dia em que o preço do petróleo encostou em US$ 80, maior valor em três anos, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna decidiu convocar uma entrevista coletiva de forma imprevista.
A surpresa fez as ações da companhia caírem de R$ 28,07 para R$ 27,46 em quatro minutos, sinal de que o mercado esperava o pior. Todo o Ibovespa foi arrastado para baixo. A reação fez Silva e Luna começar dizendo "não há nenhuma mudança na política de preços da Petrobras".
Silva e Luna, que sequer havia participado ao vivo da apresentação dos resultados da Petrobras no segundo trimestre, afirmou que a entrevista coletiva havia sido convocada porque o "o momento é oportuno. pelo que está acontecendo, de forma geral no mundo, mas olhando para o Brasil".
— Há um conjunto de fatores que nos impactam diretamente, que formam quase uma tempestade perfeita, consequência ainda da crise da pandemia.
Silva e Luna disse entender que é "uma oportunidade de conversar um pouco" sobre preços dos combustíveis e GLP, medidas de apoio ao combate da crise energética e a contribuição da estatal à sociedade brasileira que, segundo o presidente da companhia, "muitas vezes passa despercebida". Ao responder à primeira pergunta sobre defasagem nos preços internos, o diretor de comercialização e logística, Claudio Mastela, afirmou:
— Estamos olhando com carinho, com cuidado, a possibilidade de um reajuste, sim.
Mastela não mencionou data nem percentual, porque disse que há vários fatores em análise no momento. Em comentário posterior à afirmação do diretor de logística e distribuição, Silva e Luna voltou a se manifestar sobre o alto preço do petróleo, e ao fato de estar "acima de US$ 70" nos últimos dias.
— O patamar elevado do brent (petróleo negociado na Europa e referência para a política de preços da estatal) nos indica necessidade de fazer algum movimento (de preço).
Perguntado se a Petrobras participa do debate sobre um mecanismo de estabilização de preços, Silva e Luna afirmou:
— Essa área está completamente afeta ao Ministério de Minas e Energia. A Petrobras, quando convidada, participa com contribuições de natureza técnica. A forma de estudar soluções não passa por nós.
Observação: a entrevista coletiva foi encerrada depois da questão do mecanismo de estabilização de preços.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.