A Petrobras anunciou aumento de 7,19% na gasolina e de 7,22% no gás de cozinha, nesta sexta-feira (8), poucas horas depois de os brasileiros voltarem à inflação de dois dígitos em 12 meses. Com mais esses reajustes, as duas pernas do dragão ganham força para não sair de cena tão cedo.
Enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) compra briga com Estados e o presidente Jair Bolsonaro diz que não pode fazer nada para reduzir a inflação, o orçamento das famílias vai sendo devorado pelo monstro que deveria ter sido derrotado pelo Plano Real.
Certo, existe uma crise energética global. Boa parte do aumento dos combustíveis decorre da alta sem freio do petróleo, que alcançou a maior cotação em sete anos. E o cartel que supostamente controla os preços, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não dá sinais de aumentar a produção, porque não quer, ou, como já começa a se especular, porque não pode.
Mas como a coluna já escreveu exaustivamente e os economistas não param de repetir, o real deveria estar valorizado pela fase de alta de preços das matérias-primas que exporta. Ao chamado "boom das commodities", na virada da primeira para a segunda década do século 21, é atribuída a fase de prosperidade do Brasil sob o governo Lula. É verdade. Mas por que não vale a mesma regra, agora?
Por que, como a coluna já escreveu, Bolsonaro estressa tanto o país e os investidores que não permite a valorização do real. Não é uma opinião pessoal, mas uma constatação de economistas e do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que em agosto, ainda antes da última grande aventura golpista de 7 de Setembro, apontava "ruídos" que constrangiam a economia.
O dólar, que chegou a murchar para R$ 4,905 em 24 de junho deste ano, voltou a R$ 5,50 na quinta-feira (7) e segue nesse patamar no início de tarde desta sexta-feira (8), mesmo variando quase invisíveis 0,07% para baixo. Sem o fator cambial, a pressão por aumento de combustíveis seria menor, já que a metodologia da Petrobras considera a duas variações. Se a gasolina nos postos já estava subindo sem "ajuda" da Petrobras, imagine agora.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.