Quem ficou com a impressão de ter lido algo parecido com o título acima acertou: na segunda-feira (16), a coluna publicou uma nota apontando um consenso para boa parte dos economistas: as novas bravatas golpistas de Jair Bolsonaro encolhiam as expectativas de crescimento para o próximo ano.
Nesta quinta-feira (19), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu a formulação de maneira mais diplomática. Preferiu a expressão "ruídos envolvendo questões domésticas", mas confirmou que estão "jogando para baixo" as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022.
Conforme Campos Neto, apesar de os indicadores da dívida pública terem números melhores, os "ruídos recentes" dominam a atenção. O presidente do BC reconheceu que "as pessoas" relacionam as eleições do próximo ano e a intenção de ter um programa social mais robusto aos "projetos econômicos lançados recentemente".
— Entendo o barulho que está sendo gerado, acho que isso pode ser explicado — afirmou, reforçando que o governo precisa passar uma "mensagem muito responsável" em termos fiscais.
Em evento público do Council of the Americas, fórum americano criado em 1963 pelo milionário (na época, ainda era com "m", não se falava em "bilionários", como atualmente) David Rockefeller para "promover o livre comércio e mercados abertos nas Américas", Campos Neto mostrou que ao menos alguém, no governo, está de fato preocupado com a inflação: voltou a dizer que o BC "fará o que for necessário" para frear o aumento de preços.
Essa frase se tornou famosa na pandemia na versão em inglês — "whatever it takes" — e aplicada aos estímulos para evitar recessão. Na primeira vez que Campos Neto a usou, provocou alta nos juros futuros, que servem de referência para o financiamento de empresas. A arma que o BC tem na mão é a taxa Selic, que saiu de 2% para 5,25% em cinco meses.