A inflação em junho foi a maior para o mês desde 2002. O país enfrenta escassez de energia, que pode desembocar em racionamento, apagões ou apaguinhos. Faltam fontes de recursos para bancar um programa social que contribua para acelerar a retomada da economia depois da pandemia.
Mas nada disso mobiliza Jair Bolsonaro e suas tropas virtuais, focados em questionar a legitimidade do sistema eleitoral que o tornou presidente da República.
O movimento veio em reação à nova prisão de Roberto Jefferson, que de réu no Mensalão virou feroz apoiador de Bolsonaro. Em qualquer universo racional, a argumentação poderia parar aqui: o presidente testa os limites constitucionais em defesa de um personagem beneficiado pelo mecanismo de corrupção que Bolsonaro, em tese, combate. Desmonta a tese bolsonarista de que toda crítica vem de "petistas", "esquerdopatas" ou "comunistas".
No universo econômico, o comportamento presidencial "faz preço". A expectativa, quando matérias-primas básicas, como minério de ferro e soja, estão supervalorizadas, era de que o Brasil estivesse nadando em dólares e, em consequência, com real fortalecido. Na realidade, a moeda brasileira está mais desvalorizada do que outras economias emergentes.
Analistas de A a Z atribuem esse desempenho ao "ruído político", que com o tempo e exasperação ganhou versões mais explícitas, como "incessante fustigação do presidente aos poderes constituídos do país", expressão usada nesta segunda-feira (16) pelo diretor da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme.
Segundo o especialista, o comportamento presidencial e os riscos fiscais da PEC dos Precatórios e da criação do programa social que objetiva substituir o Bolsa Família provocam "repercussões desalentadoras", em especial ao mercado financeiro. Isso detém a apreciação do real que deveria decorrer da sinalização do Banco Central ( BC) de vai elevar o juro tanto quanto for necessário para frear a inflação. Na sexta-feira passada (13), em declaração pouco usual para um presidente do BC, Roberto Campos Neto afirmou:
— É impossível para qualquer BC no mundo fazer um trabalho de segurar as expectativas com o fiscal descontrolado.
O que quis dizer é que não adianta elevar a taxa Selic para segurar os preços se o governo não der sinais de contenção de gastos. No boletim Focus do BC, que reflete as expectativas das instituições financeiras para a economia brasileira, a projeção de alta do PIB deste ano segue acima de 5%, mas recuou de 5,3% para 5,28%, enquanto a de 2022 cai sem parar: estava em 2,1% há quatro semanas, agora ficou em 2,04%, e pode perder o patamar de 2% nas próxima semana, se tudo seguir como está.