Começaram a surgir especulações sobre a intenção do governo Bolsonaro de ter um Programa de Crescimento Verde para chamar de seu.
Inspirado no Pacto Ecológico Europeu, da União Europeia e no Build Back Better (Reconstruir Melhor), dos Estados Unidos, incluiria medidas ambientais para favorecer a recuperação da economia.
O retrospecto do governo Bolsonaro na área ambiental não é bom. E várias iniciativas nasceram beija-flor e viraram urubu, como as reformas tributária e administrativa. Mas a intenção de mostrar algo concreto no setor em que o Brasil é mais malvisto no Exterior é melhor do que não fazer nada. Colocar em prática o discurso de Jair Bolsonaro na cúpula organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden em abril passado é "sugestão" feita pela representação diplomática dos EUA no Brasil.
As primeiras informações sobre o plano são muito escassas, nem empresas e segmentos diretamente envolvidos sabem muito. Entre os pontos conhecidos, está a criação de uma Cédula de Produto Rural (CPR) Verde, que permite negociar carbono capturado pela preservação de áreas de floresta dentro de propriedades agrícolas.
Há estimativa de R$ 10,6 bilhões para financiar empreendimentos sustentáveis e programas de infraestrutura verde. Mas de onde sairia o dinheiro, com o orçamento já esburacado? Em tese, do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD, conhecido como banco dos Brics, ou seja, do bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O programa se conectaria com o trecho do discurso de Bolsonaro na assembleia geral da ONU sobre "o futuro do emprego verde está no Brasil".
A coluna apurou que o Programa de Crescimento Verde é bastante ambicioso. Foi encomendado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao do Meio Ambiente, Joaquim Leite. A meta era ter algo concreto para o Brasil apresentar na COP-26, a conferência sobre mudanças do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) que será realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro.
Um especialista muito crítico ao desmonte da fiscalização ambiental diz que sua expectativa é de "esperança cautelosa" em relação ao programa. Vê muitos "passivos que precisam ser recuperados", mas afirma que há tentativa de resgatar instrumentos de vigilância, inclusive com recursos. Avalia que é melhor fazer algo do que nada, mas pondera que a cautela vem do retrospecto do governo.
Até porque, exatamente quando começaram a surgir informações sobre o Programa de Crescimento Verde, também foi conhecido outro pedido do Ministério da Economia ao do Meio Ambiente: flexibilizar regras ambientais, com a justificativa de reduzir o custo Brasil que o governo acabou de aumentar com a elevação do IOF.
Parece a volta da "boiada" que Ricardo Salles queria passar no meio da pandemia. Quem sabe agora haja energia suficiente para vigiar de perto o que ajuda e o que prejudica o ambiente. Hoje, o maior custo é ser considerado um país sem compromisso ambiental.