O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, propôs nesta quarta-feira (31) um investimento de quase US$ 2 trilhões em infraestrutura, com o objetivo declarado de criar "milhões" de empregos, enfrentar a China no cenário econômico mundial e lutar contra as mudanças climáticas.
O democrata comparou seu projeto ao ambicioso programa espacial americano da década de 1960, dizendo que aumentaria os meios de subsistência dos americanos pobres e de classe média, enfrentaria o aquecimento global e seria financiado por impostos mais altos sobre as grandes empresas e os ricos.
"É grande, sim. É audacioso, sim. E nós podemos fazê-lo!", afirmou o presidente. "Isso criará a economia mais resiliente, forte e inovadora do mundo", acrescentou, enfatizando que quer "vencer" a competição com a China.
"São investimentos que não podemos deixar de fazer", ressaltou direto de Pittsburgh, na Pensilvânia, local onde lançou sua campanha pela Casa Branca há dois anos.
A primeira fase do programa "Build Back Better" (Reconstruir Melhor), detalhará os investimentos distribuídos ao longo de oito anos, que seriam financiados a partir do aumento nos impostos das empresas, cujas taxas passariam dos atuais 21% para 28%.
"Não se trata de penalizar ninguém", declarou Biden. "Não tenho nada contra milionários ou bilionários. Acredito no capitalismo americano".
Mas o inquilino da Casa Branca se mostrou indignado com o fato de que um bombeiro ou professor paga um imposto de renda de 22% enquanto gigantes empresariais como a Amazon não pagam impostos federais. "Colocaremos fim a isso", prometeu.
Ele ainda garantiu que está aberto a outras ideias, "desde que não envolva aumento de impostos às pessoas com uma menor renda".
O plano inclui destinar US$ 620 bilhões para o setor de transportes para modernizar mais de 32.000 quilômetros de estradas e rodovias, além de reparar quase 10.000 pontes no país.
- Batalha no Congresso -
A nova ofensiva legislativa acontece pouco depois de o Congresso aprovar um plano de US$ 1,9 trilhão para reparar os danos provocados pela pandemia de covid-19 na economia.
No entanto, o discurso de Biden é apenas o começo de uma longa batalha no Legislativo, cujo resultado é incerto. Com maiorias democratas estreitas, as negociações devem ser complicadas.
E as primeiras vozes dissonantes surgem da ala esquerdista do próprio Partido Democrata. Para a congressista de Nova York Alexandria Ocasio-Cortez, os valores propostos são simplesmente "insuficientes".
Para o senador republicano por Wyoming John Barraso, o projeto é um "cavalo de Troia" para permitir aos democratas "gastar mais e aumentar os impostos".
Tudo isso significa que os próximos meses serão um teste para a habilidade de negociação de Biden, um ex-senador e veterano da política de Washington.
- Carros elétricos -
O plano considera ampliar "a revolução dos carros elétricos" com, por exemplo, a mudança para ônibus elétricos de 20% da frota destinada ao transporte escolar.
Também prevê a construção de infraestruturas mais resistentes às evoluções vinculadas à mudança climática.
Reparar ou construir estradas, pontes, ferrovias, portos e aeroportos é uma ideia com grande significado para os americanos em geral, pois boa parte das infraestruturas do país data da década de 1950, e sua deterioração é inquestionável.
Alcançar um consenso entre democratas e republicanos não será fácil, porém.
Donald Trump e Barack Obama, os dois antecessores de Biden, também fizeram declarações sobre possíveis acordos e grandes promessas na área, que terminaram em fracasso.
O secretário dos Transportes, Pete Buttigieg, que estará na linha de frente do plano, acredita que, desta vez, o roteiro será diferente.
"Temos uma oportunidade extraordinária de conseguir o apoio dos dois partidos para pensar grande e dar provas de coragem nas infraestruturas", disse Buttigieg.
- "Perigosamente" equivocado -
A Câmara de Comércio dos Estados Unidos, que até agora acolheu muitas das decisões de Biden, como o retorno do país ao Acordo Climático de Paris e o plano de resgate para a economia, também expressou não concordar com a iniciativa.
Embora aprove o desejo de priorizar a infraestrutura, acredita que o presidente democrata está "perigosamente" errado na maneira como financia seu programa.
"Nos opomos veementemente aos aumentos de impostos propostos, que retardarão a recuperação econômica e tornarão os Estados Unidos menos competitivos no cenário internacional, exatamente o oposto dos objetivos deste plano", argumentou.
Trump, que falou em revitalizar a infraestrutura mas não avançou no Congresso, acusou seu sucessor de propor uma estratégia de "total capitulação econômica".
Denunciando uma "monstruosidade", considerou que o aumento do imposto sobre as empresas seria "um grande presente" para a China.
"O cruel ataque de Joe Biden ao sonho americano nunca deve se tornar lei (...) Nossa economia será destruída!", concluiu.
Biden, por sua vez, informou que um aumento de 28% no imposto corporativo ainda deixaria a alíquota mais baixa do que era por quase 70 anos entre a Segunda Guerra Mundial e 2017, ano em que Trump chegou ao poder.
* AFP