A coluna tem hábito de tentar "ler o futuro" no espelho retrovisor que é a apresentação dos resultados do PIB. Além do avanço de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB), acima do esperado, o IBGE surpreendeu ao citar o "crescimento do desenvolvimento de softwares" entre as justificativas da expansão do investimento no primeiro trimestre.
Rodolfo Fücher, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Sotfware (Abes), disse à coluna que o setor já vinha crescendo cerca de 10%. Acrescentou que, segundo dados preliminares do IDC, dobrou a velocidade de expansão em 2020, para cerca de 20%:
— Durante a pandemia, para se manter ativa, a sociedade percebeu a importância da tecnologia e da soluções tecnológicas, que são desenvolvidas com base em software, como Zoom, Teams, Meet (risos, porque a conversa foi por Teams).
O crescimento de 20%, esclarece, engloba todos os segmentos da tecnologia, além do desenvolvimento de softwares. Nessa área específica, observa, a programação é modular, ou seja, aplicativos que usam características de georreferenciamento ou reconhecimento facial podem importar módulos de Israel, China, Estados Unidos ou Europa.
Mas pondera que é preciso fazer o "acabamento" e a integração desse módulos nacionalmente. Com desenvolvimento nacional, diz, os mais fortes são os relacionados a CRM (de gestão de empresas). Lembra que, na China, já existe "um Brasil" (cerca de 200 milhões de pessoas) usando a tecnologia 5G (quinta geração da telefonia celular). Quando chegar, vai exigir outras soluções.
— Outro dado superimportante é o investimento de R$ 2,9 bilhões em startups estimado pela Distrito em 2019. Quando chegou a pandemia, houve preocupação de que isso poderia cair, mas ao contrário, em 2020 subiu para R$ 3,5 bilhões. E quase toda startup usa software. Isso significa que o mercado está muito aquecido devido à demanda — afirma Fücher.
E o presidente da Abes avalia que a velocidade do segmento vai além das necessidades geradas pela pandemia. Pondera, por exemplo, que 50% das empresas que usam CRM como ferramenta de gestão ainda não estão na nuvem.
— Existe muito mercado para migrar soluções de servidores próprios para as que usam a nuvem.
Claro que há problemas, e o principal é a escassez de mão de obra. Mas segundo Fücher, é uma dificuldade global:
— É assim em todo o mundo. Uns sofrem mais, outros menos. A China está formando quase 5 milhões de pessoas por ano no que chamamos de Stem (sigla em inglês para as áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática). Nos Estados Unidos, cerca de 600 mil. No Brasil, de 100 mil a 200 mil. Há diversas ações para tentar reverter essa situação, porque é um problema de competição entre países. Quando forma grande quantidade de engenheiros, matemáticos e cientistas, o país começa a dominar a tecnologia futura.