Além de confirmar a inversão das expectativas, que começaram negativas e haviam chegado a um sólido número positivo, o crescimento de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre em relação ao último de 2020 veio acima do esperado.
Apesar de um trio parada dura no horizonte — atraso na vacinação, disparada da inflação e temor de apagão —, esse resultado deve chancelar as projeções que surgiram na semana passada, de alta de 5% no PIB ao final do ano.
Caso se confirme, representaria a sonhada "recuperação em V" do ministro da Economia, Paulo Guedes. Como a queda em 2020 foi de 4,1% — não houve revisão desse dado na informação dada pelo IBGE nesta terça-feira (1º) —, significaria recuperação total do desastre do ano passado.
Mas até os economistas que consideram possível crescimento de 5% em 2021 advertem que a projeção não é otimista, tanto no sentido de expressar mais um desejo do que a realidade quanto no de significar que a situação econômica do Brasil é ótima. Os desafios são gigantescos: 14,8 milhões de desempregados, inflação oficial projetada em até 8% em 12 meses ao longo do ano e pouco mais de 20% da população vacinada com a primeira dose.
Uma das explicações para o crescimento mais robusto do que o esperado é o que os economistas chamam de "resiliência" da economia no trimestre afetado pela segunda onda da pandemia. E os especialistas advertem que estamos diante de uma terceira. O Itaú Unibanco, um dos que apostam em alta de 5% do PIB no ano, avalia que o impacto econômico de um novo agravamento da pandemia seria "moderado".
Outra explicação vem do dado que a coluna pinçou no resultado do PIB de 2020: o aumento de 20% no investimento no quarto trimestre do ano passado ante o período anterior. Era um aumento sobre base fraca, mas no período de janeiro a março deste ano o indicador conhecido como Formação Bruta do Capital Fixo (FBCF) avançou mais 4,6% frente ao trimestre anterior. Na comparação com o primeiro trimestre de 2021, saltou 17%, a maior variação desde o segundo trimestre de 2010.
Conforme o IBGE, essa alta é justificado pela aumento da produção interna de máquinas e equipamentos, pelos impactos do Repetro (programa que isenta de impostos importações relacionadas à exploração de petróleo e gás) e pelo crescimento do desenvolvimento de softwares.
Há pelo menos duas ótimas notícias — embora traga benefícios internos, o Repetro representa gastos no Exterior — nessa explicação, especialmente o fato de a economia brasileira finalmente ter sido tocada positivamente por "desenvolvimento de softwares". Tanto que a taxa de investimento (relação entre a FBCF e PIB) no primeiro trimestre foi de 19,4%, 3,5 pontos percentuais acima da observada no mesmo período de 2020 (15,9%).
Conforme série histórica do Ipea (o IBGE não tem esse dado específico em seu banco de dados), é a maior desde o terceiro trimestre de 2014, de 19,81%, antes da recessão. É preciso observar que, como se trata de uma divisão pelo tamanho do do PIB, que encolheu muito desde então, o resultado sobe com a menor proporção do divisor. Mas ainda assim, é notável.
Atualização: depois de essa nota ser publicada, a coluna recebeu uma revisão do PIB da GO Associados, de Gesner Oliveira, que revisou sua projeção do PIB de 4% para 5,5% neste ano.